Rússia intensifica interferência na eleição da Moldávia, alertam autoridades

Presidente Maia Sandu denuncia “tsunami” de dinheiro e desinformação russa às vésperas de eleição parlamentar

A Moldávia se prepara para uma eleição parlamentar decisiva neste domingo (28) sob fortes acusações de interferência russa. Autoridades do país afirmam que o Kremlin está investindo “centenas de milhões de euros” em compra de votos, campanhas de desinformação e mobilização de provocadores, em uma tentativa de frear a guinada pró-União Europeia (UE) e favorecer partidos alinhados a Moscou. As informações são da rede CNN.

Em pronunciamento nacional, a presidente Maia Sandu alertou para as consequências de uma eventual vitória russa. “Se a Rússia assumir o controle da Moldávia, as consequências serão imediatas e perigosas para toda a região. Todos os moldavos sofrerão, independentemente de em quem votaram”, disse.

A presidente da Moldávia, Maia Sandu (Foto: WikiCommons)

Segundo autoridades e analistas, o Kremlin vem utilizando novas táticas para influenciar o pleito. Além da compra de votos, prática já identificada em eleições anteriores, a estratégia atual aposta no uso de redes locais, treinadas para difundir mensagens em plataformas como o TikTok e confundir o eleitorado pró-UE.

Valeriu Pasha, presidente do grupo de monitoramento digital WatchDog, destacou que essas redes recebem instruções detalhadas de Moscou. “Eles treinam essas pessoas, doutrinam-nas, pagam-nas e coordenam conteúdos para manipular algoritmos das redes sociais”, afirmou à reportagem.

A campanha também envolve figuras políticas moldavas acusadas de vínculos com a Rússia, como Irina Vlah, deputada do partido Coração da Moldávia. Embora hoje declare apoio à adesão à UE, ela foi sancionada pelo Canadá e proibida de entrar na Polônia por envolvimento em atividades de interferência russa.

Histórico de manipulação eleitoral

A Moldávia não é novata nesse cenário. Em 2024, durante as eleições presidenciais e o referendo sobre adesão à UE, mais de 130 mil cidadãos foram subornados por redes ligadas ao oligarca Ilan Shor, condenado por fraude bancária e exilado no exterior. Ele chegou a oferecer pagamentos diretos a eleitores em vídeo publicado no Telegram.

Apesar disso, Sandu foi reeleita e o voto pelo “sim” à União Europeia prevaleceu.

Riscos para a estabilidade regional

Especialistas alertam que a tentativa russa de manipular o pleito não afeta apenas a Moldávia, mas representa ameaça para toda a região, em meio à guerra na vizinha Ucrânia. Oana Popescu-Zamfir, diretora do think tank GlobalFocus Center, destacou que Moscou busca impedir que a Moldávia se torne exemplo de democratização pós-soviética.

“Para um país tão pequeno, conseguir impor seu próprio caminho contra a Rússia simplesmente não é uma opção que Moscou esteja disposta a aceitar”, afirmou.

O que está em jogo

O Partido Ação e Solidariedade (PAS), de Maia Sandu, tenta manter a maioria no Parlamento, mas pesquisas recentes apontam dificuldades. Caso precise formar coalizão, analistas temem que Moscou explore a fragmentação política para travar reformas e fortalecer a oposição pró-Rússia.

Apesar da pressão externa, a Moldávia também aprimorou sua defesa. A polícia desmantelou recentemente uma rede ligada ao serviço secreto russo GRU, que havia treinado moldavos na Sérvia para promover violência eleitoral.

Ainda assim, especialistas alertam que a desinformação pode ser apenas o início de uma escalada que inclua violência organizada para desestabilizar a sociedade moldava.

Influência russa

A Moldávia, um dos países mais pobres da Europa, está situada entre a Ucrânia e a Romênia. O país enfrenta problemas de corrupção e depende significativamente das remessas enviadas por sua grande diáspora espalhada pela Europa. Apesar dos esforços da Rússia para desacreditá-la, essa conexão com o restante do continente é de grande importância e motivou a candidatura do país ao bloco.

A relação com Moscou, porém, também é forte. Antiga república soviética e com maioria de língua romena, a Moldávia tem uma região separatista pró-Rússia chamada Transnístria. Após a invasão da Ucrânia pelas tropas do Kremlin, Kiev rapidamente fechou a fronteira de 452 quilômetros que compartilha com a Transnístria, temendo que fosse usada para fortalecer a agressão.

A própria Moldávia teme uma invasão pela Transnístria, onde Moscou mantém cerca de 1,5 mil soldados de paz desde o cessar-fogo de 1992, quando foi encerrada um curto conflito entre os separatistas e as forças moldavas. Recentemente, o presidente separatista local, Vadim Krasnoselsky, colocou mais lenha na fogueira ao pedir “proteção” a Moscou, alegando que Chisinau vinha sufocando a região. Ele, porém, tentou contemporizar, alegando que não falava de suporte militar.

Apesar da apreensão, os moldavos entendem que um invasão russa neste momento é inviável. Segundo o ministro das Relações Exteriores Mihai Popsoi, a segurança do país em parte é assegurada por Kiev, vez que as Forças Armadas russas estão comprometidas com a guerra e desgastadas em função da resistência dos ucranianos.

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