Moldávia vê Rússia como ameaça perene, mas aposta no sacrifício ucraniano para evitar invasão

Moscou aumenta pressão para manter Chisinau em sua esfera de influência, mas desgaste militar pesa contra uma invasão

Desde 1992, quando Moscou forneceu apoio militar aos separatistas da Transnístria em sua guerra por independência, a sombra da Rússia paira sobre a Moldávia. A situação tornou-se mais tensa desde a invasão da Ucrânia pelas tropas russas, em fevereiro de 2022, e a partir dali Chisinau passou a temer por um destino semelhante. Embora a pressão russa se mantenha e os contextos nos dois países guardem muitas semelhanças, o governo moldavo vê justamente o sacrifício ucraniano como um importante escudo.

“Os últimos dois anos, sem exagero, foram de longe os mais difíceis dos últimos 30 anos”, disse Mihai Popsoi, ministro das Relações Exteriores nomeado no final de janeiro, em entrevista à agência Associated Press (AP).

Conforme se prepara para a eleição presidencial e para um referendo sobre a possível adesão à União Europeia (UE), a inteligência moldava diz que Moscou planeja realizar uma campanha “sem precedentes” de desestabilização na tentativa de manter o país na sua zona de influência.

Veículos das Forças Armadas da Moldávia nas proximidades da Transnístria (Foto: facebook.com/MDAarmy)

“Eles estão tentando subornar os eleitores e usar os cidadãos para suborná-los. Os russos estão aprendendo, se adaptando e tentando usar o processo democrático contra nós para derrubar um governo democrático na Moldávia”, disse Popsoi. “Sabemos que o Kremlin vai investir muita energia e recursos financeiros através dos seus representantes para tentar conseguir o que quer.”

Por ora, o que a Moldávia vê como improvável é uma invasão militar em larga escala. O cenário lembra muito o da Ucrânia, onde a tensão começou com a queda do presidente pró-Moscou Viktor Yanukovych em 2013. A isso se seguiu o conflito na Crimeia em 2014, com a Rússia apoiando os separatistas, e se repetiu em Donbass. Anos depois, em 2022, veio a invasão em larga escala.

Na Moldávia, a porta de entrada das tropas russas seria a Transnístria, onde Moscou mantém cerca de 1,5 mil soldados de paz desde o cessar-fogo de 1992, quando foi encerrada um curto conflito entre os separatistas e as forças moldavas. Recentemente, o presidente separatista local, Vadim Krasnoselsky, colocou mais lenha na fogueira ao pedir “proteção” a Moscou, alegando que Chisinau vinha sufocando a região. Ele, porém, tentou contemporizar, alegando que não falava de suporte militar.

Apesar da apreensão, os moldavos entendem que um invasão russa neste momento é inviável. Segundo Popsoi, a segurança do país em parte é assegurada por Kiev, vez que as Forças Armadas russas estão comprometidas com a guerra e desgastadas em função da resistência dos ucranianos.

“Eles estão nos mostrando provas de que a situação na linha da frente, porque a Ucrânia está tão determinada na defesa do seu território, torna isso improvável, embora não impossível. A probabilidade de os russos serem capazes de avançar e chegar ao nosso território é muito menor agora do que era há dois anos”, disse Popsoi, de acordo com o site Politico. “Graças ao sacrifício do corajoso povo ucraniano e do exército ucraniano”, acrescentou.

Ainda assim, ele admite que é impossível ficar totalmente confortável com a proximidade da guerra, vez que a Moldávia faz fronteira com a Ucrânia. “Estamos seguros, embora seguro possa ser uma palavra forte, dado que as linhas de frente estão a apenas 200 quilômetros de distância”, afirmou Popsoi.

Por ora, Chisinau acredita que as ações de Moscou pendem para uma guerra híbrida focada em desestabilizar o governo e impor a influência russa. Uma “operação psicológica”, como definiu o chefe da diplomacia moldava.

Ivana Stradner, investigadora da Fundação para a Defesa das Democracias, um think tank de Washington, concorda com a análise. “Esta não é a primeira vez que os russos empregam ferramentas de guerra híbrida para desestabilizar a Moldávia e semear a discórdia”, disse ela ao Politico. “A Rússia não tem armas sobressalentes para enviar a países como a Moldávia e não pode alcançar à Transnístria por via aérea ou terrestre.”

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