Do acolhimento à rejeição: xenofobia contra ucranianos explode após eleição polonesa

Relatos de agressões e discursos de ódio aumentam entre os dois milhões de ucranianos que vivem no país

A comunidade ucraniana na Polônia, formada por cerca de dois milhões de pessoas, entre trabalhadores migrantes e quase um milhão de refugiados de guerra, enfrenta um aumento preocupante de episódios de xenofobia. Desde a eleição presidencial de 2025, marcada pela vitória do nacionalista Karol Nawrocki, os relatos de agressões verbais, físicas e discriminação se multiplicaram. As informações são do Le Monde.

Jornalistas e ativistas relatam episódios de hostilidade em locais públicos, como ônibus e ruas de Varsóvia, onde ucranianos são insultados por falarem sua língua. Crianças também vêm sofrendo assédio nas escolas. Muitos evitam usar o ucraniano em público e tentam disfarçar o sotaque para não se tornarem alvo de ataques.

Outro cenário: em 2022, após invasão russa, refugiados ucranianos recebem refeições, roupas e abrigo em Cracóvia (Foto: WikiCommons)
Desinformação russa

A retórica anti-imigração dominou a campanha presidencial, impulsionada pelo partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS) e pela extrema direita. Fake news sobre supostos privilégios dos ucranianos em serviços públicos, benefícios sociais e aumento da criminalidade ganharam espaço, apesar de não terem base factual.

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), os ucranianos contribuíram com 2,7% para o PIB polonês em 2024, ajudando a suprir a falta de mão de obra no país.

Analistas apontam que a propaganda russa amplifica ressentimentos históricos e dissemina desinformação. Pesquisas recentes mostram que parte da população polonesa acredita em narrativas falsas, como a de que Kiev deseja “arrastar” Varsóvia para a guerra.

Impactos sociais

Após o início da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, os poloneses demonstraram solidariedade massiva. Mas, três anos depois, a disposição da população em acolher os refugiados vem diminuindo drasticamente.

O clima de hostilidade levou muitos ucranianos a reconsiderarem sua permanência na Polônia, apesar da guerra em seu país. Organizações comunitárias alertam que o discurso de ódio já se normalizou no debate público, representando um risco para a integração social e para os direitos humanos no leste europeu.

Quem é Karol Nawrocki

Historiador de formação e ex-diretor do Instituto da Memória Nacional, Karol Nawrocki assumiu a presidência da Polônia em 2025 com apoio do partido Lei e Justiça (PiS) e de setores da extrema direita. Ele venceu as eleições de junho com 50,89% dos votos, derrotando o liberal Rafal Trzaskowski.

Sua campanha foi marcada pelo slogan “Polônia primeiro, poloneses primeiro”, defendendo que benefícios estatais e serviços públicos priorizem cidadãos poloneses. A postura nacionalista também inclui ceticismo em relação à União Europeia e defesa de valores conservadores ligados à identidade histórica e cultural do país.

Nawrocki ganhou notoriedade ao liderar políticas de memória que destacam a resistência polonesa ao comunismo e à ocupação estrangeira. Ao mesmo tempo, ele é criticado por adotar um discurso que pode alimentar tensões sociais, especialmente no tratamento dado a refugiados ucranianos.

Com perfil nacional-conservador e alinhado a líderes como Donald Trump, Nawrocki é visto como parte da onda de fortalecimento da ultradireita europeia. Sua vitória representa uma guinada política e levanta preocupações sobre o futuro das relações entre a Polônia e a União Europeia.

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