Doenças relacionadas ao envelhecimento custarão US$ 7,3 trilhões à América do Sul, diz estudo

Estudo europeu alerta que doenças crônicas e saúde mental podem custar trilhões à região até 2050, e que prevenção pode reduzir gastos e melhorar qualidade de vida

À medida que a população envelhece, doenças crônicas não transmissíveis e problemas de saúde mental impactam na economia da América do Sul, reduzindo a oferta de trabalho e desviando recursos essenciais para investimentos.

Um novo estudo revela que, entre 2020 e 2050, essas condições custarão à região cerca de US$ 7,3 trilhões em PIB perdido, o equivalente a um “imposto” anual de 4% sobre o PIB regional. As informações são do think tank Centre for Economic Policy Research (CEPR), uma organização europeia sem fins lucrativos que produz pesquisas econômicas para informar políticas públicas.

Diante desse cenário, investir em prevenção, reforma da saúde e políticas voltadas à terceira idade pode transformar esse desafio em um verdadeiro dividendo da longevidade, aponta o documento.

Mulheres idosas passeiam no Bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro (Foto: WikiCommons)
Um novo desafio global

Nas últimas décadas, o envelhecimento populacional substituiu o crescimento demográfico como questão central. Hoje, pessoas com 65 anos ou mais representam 10,4% da população mundial, número que deve alcançar 16,3% até 2050, segundo estudo da ONU em 2022. Até lá, haverá mais de 1 bilhão de idosos a mais no planeta.

Na América do Sul, a proporção de idosos dobrará até 2050, passando de 9% para 20% da população. Isso aumenta significativamente a demanda por serviços de saúde e cuidados de longa duração, pressionando governos e sociedades.

A nova epidemia silenciosa

Doenças como câncer, diabetes, doenças cardiovasculares, respiratórias e problemas mentais, incluindo Alzheimer, depressão e ansiedade, são responsáveis por 74% das mortes anuais no mundo, segundo a OMS, em estudo de 2023.

Além do envelhecimento, fatores como tabagismo, consumo excessivo de álcool, sedentarismo, má alimentação, urbanização e poluição ampliam esses problemas, aprofundando desigualdades no acesso à saúde.

Impacto econômico

Essas condições não representam apenas um desafio de saúde: são uma carga econômica enorme. Elas reduzem a força de trabalho, elevam custos com saúde e desviam investimentos de áreas estratégicas, criando um efeito cascata que freia o crescimento econômico.

Entre 2020 e 2050, o estudo estima perdas de US$ 7,3 trilhões em PIB na América do Sul, o equivalente ao gasto anual com educação. O impacto varia: o Uruguai deve perder US$ 88 bilhões, enquanto o Brasil enfrenta um déficit de US$ 3,7 trilhões. Por pessoa, Chile, Uruguai e Argentina terão os maiores custos.

Da crise ao dividendo da longevidade

O estudo revela que o “imposto” da doença pode ser evitado por meio de estratégias eficazes, como prevenção e promoção da saúde, fortalecimento institucional e melhor coordenação entre setores, reformas nos sistemas de cuidados de longa duração, acesso universal a serviços de qualidade, políticas que respondam às necessidades da população e inovação tecnológica em saúde.

Investir em envelhecimento saudável, por meio de políticas previdenciárias adequadas, infraestrutura acessível e incentivos para a permanência no mercado de trabalho, não apenas reduz custos, mas também gera novas oportunidades econômicas. Esse é o chamado dividendo da longevidade: mais produtividade, menos gastos e maior qualidade de vida para toda a sociedade.

O envelhecimento não é igual para todos

O envelhecimento impacta de forma desigual. Populações de baixa renda desenvolvem doenças crônicas mais cedo, agravando disparidades sociais e econômicas. Intervenções precoces e políticas focadas nos grupos mais vulneráveis são essenciais para reduzir essas desigualdades.

Demografia não é destino

O envelhecimento populacional, aliado às doenças crônicas e problemas mentais, ameaça a prosperidade da América do Sul. Mas essa realidade não é inevitável. Com políticas estratégicas, é possível transformar esse desafio em oportunidade.

Como destaca o estudo, “o envelhecimento saudável pode ser um motor de crescimento, bem-estar e equidade social”. A escolha é nossa: enfrentar o problema agora ou pagar um “imposto” crescente nos próximos 30 anos.

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