Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News
Civis abrigados no vasto campo de deslocados de Zamzam, na região de Darfur do Norte, no Sudão, agora são “quase impossíveis” de alcançar, alertou na quinta-feira (6) a principal autoridade humanitária da ONU (Organização das Nações Unidas) no país.
“Estou profundamente preocupada com os relatos de destruição de casas e meios de subsistência em Darfur do Norte”, disse Clementine Nkweta-Salami, residente da ONU e coordenadora humanitária para o Sudão. “Os civis continuam a pagar o preço. O acesso ao campo de Zamzam é quase impossível, justamente quando as pessoas mais precisam de apoio. Precisamos de acesso humanitário desimpedido para entregar ajuda que salva vidas.”
O campo de Zamzam fica a cerca de 15 quilômetros ao sul da cidade de El Fasher, capital de Darfur do Norte, que está sitiada por forças de milícias que se opõem ao governo em Cartum há meses. Foi inaugurado em 2004 para abrigar pessoas desarraigadas pela guerra no oeste do país.
Na semana passada, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) relatou que crianças já estavam morrendo no campo e que milhares poderiam passar fome nas próximas semanas, depois de ter sido forçado a interromper a distribuição de ajuda em meio a fortes bombardeios.

Aliados que se tornaram inimigos
Em todo o Sudão, as Forças Armadas Sudanesas (SAF) do governo têm lutado contra seus antigos aliados que se tornaram adversários, a milícia das Forças de Apoio Rápido (RSF), desde 15 de abril de 2023, quando uma transição planejada para um governo civil fracassou.
As RSF agora controlam praticamente toda região de Darfur, com a cidade de El Fasher, perto de Zamzam, sitiada há meses.
A milícia invadiu o acampamento em 11 de fevereiro, desencadeando vários dias de confrontos com tropas do exército e forças aliadas, de acordo com relatos da imprensa.
Na terça-feira (4) à noite, em outro ataque a civis que tem sido uma característica do conflito no Sudão, acredita-se que dezenas de pessoas, a maioria muçulmanas, foram mortas no campo de Abu Shouk, em Darfur do Norte, após um ataque a um mercado movimentado da região, creditado às RSF.
Isso ocorreu após outro ataque de bombardeio relatado no acampamento no domingo (2), que deixou seis mortos.
Em um desenvolvimento relacionado, o Conselho de Segurança da ONU expressou grande preocupação com a assinatura de uma carta pelas forças de oposição do Sudão que buscam estabelecer uma autoridade governamental paralela no Sudão.
“Os membros do Conselho de Segurança ressaltaram que tais ações correm o risco de agravar o conflito em curso no Sudão, fragmentando o país e piorando uma situação humanitária já terrível”, disse o órgão de 15 membros.
US$ 22 milhões em ajuda emergencial fornecida
Hoje, dois milhões de pessoas em 27 localidades no Sudão estão passando fome ou à beira dela. O exército sudanês controla as regiões norte e leste, enquanto a milícia e seus aliados controlam grande parte de Darfur no oeste e partes do sul.
Para ajudar os civis mais vulneráveis, o Coordenador de Ajuda de Emergência da ONU, Tom Fletcher, anunciou na quinta-feira que US$ 22 milhões serão alocados para apoiar ajuda humanitária vital no Sudão.
Os fundos serão liberados pelo Fundo Central de Resposta a Emergências (Cerf) para oferecer assistência para combater o impacto do conflito crescente, da fome, das doenças e dos choques climáticos.
Horror de estupro infantil
No início desta semana, o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) alertou que crianças de apenas um ano de idade estavam sendo estupradas pelas forças armadas.
Mais de 220 casos de estupro infantil foram relatados desde o início de 2024, disse a agência da ONU, citando dados de equipes que ajudam vítimas de violência de gênero.
“Crianças de apenas um ano sendo estupradas por homens armados deveriam chocar qualquer um e exigir uma ação imediata”, disse a diretora executiva do Unicef Catherine Russell.