Mais de 200 civis desarmados foram mortos por combatentes das Forças de Apoio Rápido (RSF, da sigla em inglês) em vilarejos do Sudão ao longo de três dias, segundo a rede de direitos humanos Emergency Lawyers. Os ataques ocorreram em al-Kadaris e al-Khelwat, no norte do estado do Nilo Branco, uma região sem presença militar. As informações são da BBC.
A organização denunciou que os paramilitares da RSF realizaram execuções, sequestros, desaparecimentos forçados e saques. A RSF, que já foi aliada dos militares antes do início da guerra civil em abril de 2023, não comentou as acusações.
O grupo paramilitar e o exército governamental assumiram o poder juntos em um golpe, mas entraram em conflito devido a um plano internacional para a transição ao governo civil. O confronto entre as duas forças já deixou dezenas de milhares de civis mortos e forçou cerca de 12 milhões de pessoas a deixarem suas casas.

A disputa opõe o general Abdel Fattah al-Burhan, líder do exército e governante de fato do Sudão, e Mohamed Hamdan “Hemedti” Dagalo, comandante da RSF. Nos últimos meses, as tropas militares retomaram áreas estratégicas da capital, Cartum, incluindo o quartel-general do exército, além de quase todo o estado de Gezira.
Diante das perdas territoriais, a RSF agora busca consolidar seu controle em regiões como Darfur e partes do estado de Kordofan. O grupo está reunido em Nairóbi com aliados para formalizar um governo paralelo, descrito como “Governo de Paz e Unidade”. Analistas alertam que a medida pode aprofundar ainda mais a crise no Sudão.
O general Burhan já rejeitou a iniciativa e reafirmou sua intenção de retomar o controle total de Cartum. Atualmente, ele opera a partir de Port Sudan, onde se refugiou após a RSF capturar a sede militar e o palácio presidencial na capital.
Por que isso importa?
O Sudão vive um violento conflito civil que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das SAF, e Mohamed Hamdan “Hemedti” Daglo, à frente da milícia das RSF.
As tensões decorrem de divergências sobre a incorporação dos combatentes das RSF às Forças Armadas, o que levou a milícia a se insurgir. Hemedti tem entre 70 mil e cem mil homens sob seu comando, de acordo com a rede Deutsche Welle (DW), enquanto al-Burhan lidera um efetivo de cerca de 200 mil.
Embora as SAF sejam mais bem equipadas e em maior número, as RSF são igualmente bem treinadas, o que equilibra as ações. O balanço de forças apenas prolonga as hostilidades e a violência decorrente, com nenhum dos dois lados conseguindo se impor sobre o inimigo.
Desde que o conflito se espalhou, primeiro pela capital, depois por outras regiões, cerca de dez milhões de pessoas foram deslocadas dentro do país, com mais de dois milhões forçadas a cruzar as fronteiras para o exterior. A crise maciça deixou 25 milhões de pessoas necessitando de ajuda humanitária e proteção.
A terrível situação é agravada por uma grave escassez de suprimentos essenciais, já que as entregas de produtos comerciais e de ajuda humanitária foram fortemente restringidas pelos combates e pelos desafios de acesso ao território controlado pelas RSF.