África se firma como epicentro do terrorismo islâmico e Ocidente vê ataques diminuírem

Número de ataques caiu substancialmente nos últimos três anos nas nações ocidentais, com quedas sucessivas a cada ano

O relatório Índice Global do Terrorismo 2022, divulgado na terça-feira (2) pelo think tank australiano Instituto de Economia e Paz, confirma o continente africano como o novo epicentro global do terrorismo islâmico. O documento também aponta uma drástica redução na atividade extremista nas nações ocidentais.

“No Ocidente, o número de ataques caiu substancialmente nos últimos três anos, com quedas sucessivas a cada ano. Cinquenta e nove ataques e dez mortes foram registrados em 2021, uma diminuição de 68%
e 70%, respectivamente, desde o pico em 2018″, diz o documento.

Em 2021, foram registradas 5.226 ações terroristas no mundo, um aumento de 17% em relação ao ano anterior, que teve 4.458. Entretanto, as mortes diminuíram 1,2% na comparação com 2020.

Um fato destacado pelo think thank é o de que, dos sete ataques terroristas registrados nos EUA em 2021, nenhum foi atribuído a grupos extremistas conhecidos. “Na Europa, extremistas islâmicos realizaram três ataques em 2021. Ataques nos EUA também caíram para o nível mais baixo desde 2015″, diz o relatório, que faz uma ressalva. “As mortes nos EUA aumentaram ligeiramente, de duas para três”.

Militantes do ISWAP na Nigéria, em março de 2021 (Foto: Reprodução/Sahara Reporters/ISWAP)

Se o Ocidente parece ter encontrado meios para combater os jihadistas, a África subsaariana vai no sentido oposto. A região registrou quase a metade de todas as mortes mundiais em virtude de ataques extremistas, 48% do índice global em 2021. Já o Sahel tornou-se a base dos grupos mais violentos do mundo e principal foco de propagação do terrorismo.

“A incapacidade de vários governos do Sahel de fornecer segurança eficaz encorajou os grupos terroristas a continuarem suas atividades, tornando o Sahel cada vez mais violento, com mortes aumentando dez vezes entre 2007 e 2021”, diz o relatório.

Naquela região, um fenômeno registrado em 2021 é o de grupos de criminosos sem vínculo religioso ou ideológico que se unem a facções extremistas islâmicas. “Alguns dos grupos optaram por se juntar a facções da Al-Qaeda ou do Estado Islâmico (EI), o que também pode explicar o aumento da violência”.

Entre as nações africanas, quem tem registrado maior crescimento da violência extremista é o Níger, país com mais mortes por terrorismo no mundo. “Embora a maioria das mortes tenha sido atribuída a grupos desconhecidos ou a extremistas muçulmanos não especificados, suspeita-se que estes ataques podem ser obra do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental) ou do Boko Haram“.

O direcionamento da atividade terrorista para a África ocorreu sobretudo após a derrota do EI no Iraque e na Síria. “O terrorismo na região é agravado pelo alto crescimento populacional, falta de água e alimentos adequados, mudanças climáticas e governos fracos. Aumentando a complexidade, muitas organizações criminosas estão se apresentando como insurgências islâmicas”, diz o think tank.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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