Até 20 milhões de pessoas podem passar fome neste ano, já que as chuvas atrasadas agravam a seca extrema na região do Chifre da África, que ainda sofre com o déficit na ajuda humanitária. O alerta foi feito pelo PMA (Programa Mundial de Alimentos) nesta terça-feira (19).
O tempo está se esgotando rapidamente, alertou a agência da ONU, com a Somália enfrentando “o risco muito real de fome” nos próximos seis meses. Enquanto isso, cerca de 7,2 milhões de etíopes já não estão recebendo o suficiente para comer, e meio milhão de quenianos estão a um passo de níveis catastróficos de fome e desnutrição.
“Sabemos por experiência anterior que agir cedo para evitar uma catástrofe humanitária é vital. Mas nossa capacidade de lançar a resposta foi limitada devido à falta de financiamento até o momento”, disse Michael Dunford, diretor regional do PMA para a África Oriental.
O Chifre da África sofreu seca semelhante entre 2016 e 2017, mas a assistência humanitária foi ampliada cedo, salvando vidas e evitando uma fome devastadora.
Problema previsível
Desde o ano passado, o PMA e seus parceiros humanitários alertam que a atual seca pode ser desastrosa se a comunidade internacional não agir imediatamente. Três temporadas consecutivas de chuvas abaixo da média levaram a uma deterioração contínua da segurança alimentar, de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).
O impacto foi sentido nas famílias que cultivam culturas ou animais, disse Chimimba David Phiri, coordenador sub-regional da FAO para a África Oriental, que está baseado na capital da Etiópia, Adis Abeba.
Cerca de três milhões de cabeças de gado morreram no sul da Etiópia e nas regiões áridas e semi-áridas do Quênia, informou Phiri. Na Somália, até 30% dos rebanhos das famílias morreram desde meados de 2021.
“Além disso, além da seca, muitas das áreas que nos preocupam são atormentadas por conflitos e insegurança, bem como por desafios macroeconômicos e aumento dos preços dos alimentos. Recentemente, também por gafanhotos do deserto”, disse o coordenador
A situação no Chifre da África também foi agravada pelas consequências da guerra na Ucrânia, já que o custo dos alimentos e do combustível continua subindo.
Efeitos da guerra
O PMA disse que os países afetados pela seca provavelmente serão os mais prejudicados pela guerra. O custo de uma cesta básica já aumentou, principalmente na Etiópia e na Somália, que dependem fortemente das importações de trigo provenientes de países da região do Mar Negro.
Segundo Phiri, a FAO também está preocupada com a baixa oferta de fertilizantes da região do Mar Negro durante o segundo semestre do ano.
“Acreditamos que a crise na Ucrânia de fato tirou parte do brilho das necessidades da região do Chifre da África”, disse ele. “É importante para o mundo que, enquanto eles estão considerando as necessidades da Ucrânia, também considerem as necessidades do Chifre da África”.
Ambas as agências da ONU estão buscando ampliar o apoio às suas operações e temem que, devido à falta de financiamento, seja difícil enfrentar a iminente catástrofe humanitária.
“Devemos agir agora sem arrependimentos se quisermos evitar uma catástrofe humanitária e devemos aumentar significativamente nossos investimentos em sistemas alimentares resilientes”, disse Phiri.
O PMA pediu pela última vez, em fevereiro, o financiamento necessário de US$ 473 milhões, mas recebeu menos de 4% disso. A FAO lançou um plano de resposta à seca de US$ 130 milhões em janeiro para ajudar 1,5 milhão de pessoas. Cerca de US$ 50 milhões foram recebidos até o momento.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News