Ao menos 30 militares morrem em ataque suicida na capital da Somália

Al-Shabaab assumiu a autoria do atentado a bomba, que teve como alvo uma academia de treinamento das forças armadas

Um ataque suicida a bomba matou ao menos 30 soldados das forças armadas da Somália na segunda-feira (24) em Mogadíscio, a capital do país africano. Outros nove militares ficaram feridos com gravidade e podem ampliar a quantidade de vítimas fatais, segundo informações do site local Garowe.

O atentado foi reivindicado pelo Al-Shabaab, grupo terrorista mais atuante na Somália e que vem sendo alvo de uma grande campanha de contraterrorismo das forças armadas. Nas contas do governo local, ao menos três mil terroristas foram mortos na primeira fase de operações.

Sob pressão crescente das forças de segurança, os insurgentes têm intensificado seus ataques. Embora civis estejam na mira, militares são atualmente o alvo preferencial. Em maio, os militantes atacaram uma base ocupada pela União Africana (UA) e mataram 54 soldados de Uganda que atuavam em parceria com a Somália no combate ao terrorismo.

No caso do ataque de segunda-feira, o número de vítimas foi divulgado pelas forças armadas somalis e difere do balanço informado pela organização terrorista, que alega ter matado mais de 70 militares. Porém, o Al-Shabaab habitualmente divulga estatísticas exageradas para valorizar seus feitos.

“Confirmamos 30 mortos e 73 feridos na explosão no campo de treinamento militar”, disse um oficial do exército que pediu para ser identificado apenas como major Abdullahi. O número de 30 mortos foi confirmado por uma segunda fonte militar.

De acordo com o capitão Ali Farah, os militares mortos eram da região de Lower Shabelle e estavam em Mogadíscio para treinamento. No momento da explosão, estavam enfileirados para uma contagem de rotina, o que os tornou alvo fácil para o terrorista suicida.

Soldados da Somália em treinamento: ao menos 30 vítimas em ataque a bomba (Foto: rawpixel.com)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio, a capital somali, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da UA. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia e para outros países fronteiriços.

O grupo, que é vinculado à Al-Qaeda, concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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