Após cessar-fogo, Etiópia estabelece governo interino na região de Tigré

Medida é parte do acordo de paz firmado em novembro de 2022 entre grupos rebeldees do norte do país e o governo central

O governo da Etiópia anunciou na quinta-feira (23) que um governo interino foi estabelecido na região de Tigré, norte do país. A medida integra o acordo de paz firmado entre Adis Abeba e os rebeldes locais, encerrando um conflito que durava mais de dois anos. As informações são da rede Deutsche Welle (DW).

O governo interino tigré será comandado por Getachew Reda, porta-voz da TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), partido político com um braço armado que liderou a coalizão rebelde contra as forças do governo durante o conflito.

Reda, um antigo conselheiro de Debretsion Gebremichael, líder da TPLF, foi a cara do partido durante a guerra. Ele foi também o escolhido para assinar o acordo de paz mediado pela União Africana (UA), o que ocorreu na cidade sul-africana de Pretória.

A TPLF, que chegou a dominar o governo central etíope no passado, foi também retirada da lista de organizações terroristas do país, onde estava desde maio de 2021. O governo interino em Tigré se manterá até que eleições democráticas sejam realizadas.

“Uma vez que a comunidade tigré faz parte do nosso país, o povo de Tigré faz parte do acordo de paz que permite ao povo de Tigré obter um lugar no parlamento para decidir e participar igualmente nos assuntos do seu país”, afirmou a Câmara dos Representantes em comunicado.

Abiy Ahmed, primeiro-ministro da Etiópia: paz bem encaminhada (Foto: Divulgação/Twitter)
Por que isso importa?

A região de Tigré, no extremo norte da Etiópia, esteve imersa em conflitos por dois anos desde novembro de 2020, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. A disputa opõe a TPLF às forças de segurança nacionais da Etiópia.

Os militares chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho de 2021, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle.

Pouco após a derrota do exército, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército da aliada Eritreia também deixaram de ser vistos por lá. Posteriormente, com o avanço dos rebeldes, que chegaram às regiões vizinhas de Amhara e Afar, o exército foi enviado novamente para apoiar as tropas locais.

Durante o conflito, a TPLF se aliou ao OLA (Exército de Libertação Oromo, da sigla em inglês), que em 2020 se desvinculou do partido político homônimo e passou a defender de maneira independente a etnia Oromo, a maior da Etiópia.

A coalizão passou a superar o exército nos confrontos armados e chegou a ameaçar rumar para a capital, sem sucesso. A situação estava relativamente calma em 2022 até agosto, quando nos confrontos eclodiram. Três meses depois, um cessar-fogo foi firmado, e os rebeldes começaram a depor suas armas.

Acredita-se que dezenas de milhares de pessoas tenham morrido no conflito, com milhões de deslocados das regiões de Tigré, Amhara e Afar. Em março de 2023, os EUA acusaram todas as partes envolvidas no conflito de cometerem crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

A denúncia recai não apenas sobre as forças armadas da Etiópia e da Eritreia, país vizinho que apoiou o governo etíope durante o conflito. Também atinge as milícias de oposição, quais sejam a TPLF e as forças rebeldes de Amhara.

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