A Rússia vem ampliando sua influência na África às custas das nações ocidentais, com os EUA e a França acumulando os maiores prejuízos. No Níger, onde teve papel decisivo na expulsão das tropas norte-americanas, Moscou busca agora assumir o controle da exploração de urânio que cabia aos franceses. As informações são da rede Bloomberg.
Fontes ouvidas pela reportagem dizem que a Rosatom, agência nuclear estatal russa, vem negociando com o governo nigerino a aquisição dos ativos que pertencem atualmente à francesa Orano SA. O país africano produziu cerca de 4% de todo o urânio global em 2022, segundo dados divulgados pela Associação Nuclear Mundial.
A Rússia vem colhendo os frutos da crise democrática que se instalou na África, com uma sucessão de golpes de estado que colocaram no poder juntar militares alinhadas com o Kremlin. Após Burkina Faso e Mali, o Níger foi palco da tomada de poder mais recente, em julho de 2023.

Uma das medidas do governo militar liderado pelo general Abdourahamane Tchiani foi romper os acordos de segurança que mantinham com Paris e Washington, determinando que as tropas dos dois países se retirassem.
A França finalizou a saída de seus soldados em dezembro do ano passado, enquanto o processo de retirada dos militares dos EUA já teve início. A relação entre o governo do Níger e a Rússia foi uma das causas da crise entre Niamei e Washington, de acordo com o primeiro-ministro nigerino, Ali Mahaman Lamine Zeine, apontado pelos militares para governar o país.
Em maio, ele afirmou ao jornal The Washington Post que teve uma reunião com desfecho insatisfatório com Molly Phee, principal autoridade do Departamento de Estado norte-americano para assuntos africanos.
De acordo com o premiê, durante o encontro, ela teria contestado a aproximação entre o governo militar nigerino e a Rússia e determinado também o fim do diálogo entre a nação africana e o Irã. Se não fosse atendida, o acordo de segurança entre Níger e EUA seria cancelado. Zeine, então, optou por romper ele mesmo o pacto e expulsar as tropas norte-americanas.
Por enquanto, as Forças Armadas dos EUA mantêm seus militares no Níger, mas por tempo limitado. No entanto, a agência Reuters revelou que ele precisam dividir temporariamente a base aérea em que estão com soldados russos, que já chegaram ao país para assumir o papel dos norte-americanos no setor de segurança.
O processo é parte da aliança crescente entre Moscou com as nações africanas, que é focada na luta contra o extremismo islâmico e rende ao governo russo o direito de explorar riquezas mineiras nas nações anfitriãs.
A aliança, entretanto, não se faz através das Forças Armadas regulares, e sim de de mercenários. O Wagner Group foi quem primeiro se estabeleceu no continente, mas vem sendo desfeito desde a morte de seu líder, Evgeny Prigozhin.
Outros grupos surgiram nos mesmos moldes, e quem melhor se posiciona para assumir o espólio do antecessor é uma organização paramilitar privada chamada “The Africa Corps“, atrelada ao Ministério da Defesa russo, embora não seja integrada às Forças Armadas.
O porta-voz militar do Níger, coronel major Amadou Abdramane, confirmou a parceria com a Rússia, mas diz que ela foi negociada “sob uma base estatal, conforme acordos de cooperação militar assinados com o governo anterior (pré-golpe), para adquirir equipamento militar necessário à sua luta contra os terroristas que fizeram milhares de vítimas nigerinas inocentes sob o olhar indiferente de grande parte da comunidade internacional.”
Para Moscou, a África representa ainda uma fonte de renda crucial, conforme o país se afoga nos gastos com a guerra da Ucrânia. A Rússia faturou, somente desde o início do conflito, US$ 2,5 bilhões com ouro de países africanos.