Aliado e possível sucessor de Putin está por trás do assassinato de Evgeny Prigozhin, diz jornal

Nikolai Patrushev, secretário do Conselho de Segurança Nacional, teria autorizado a morte do chefe do Wagner Group, segundo o The Wall Street Jorunal

O assassinato de Evgeny Prigozhin, chefe do Wagner Group morto na queda de um avião em agosto deste ano na Rússia, teria sido autorizado por Nikolai Patrushev, secretário do Conselho de Segurança Nacional e apontado como possível sucessor do presidente Vladimir Putin no comando do país. A informação foi divulgada pelo The Wall Street Journal (WSJ).

De acordo com a reportagem, funcionários de serviços de inteligência de países ocidentais e um ex-agente da inteligência russa confirmaram o envolvimento de Patrushev. Ele teria dado aval para que um pequeno artefato explosivo fosse colocado sob uma das asas, derrubando assim o Legacy 600, fabricado no Brasil, que conduzia Prigozhin e outras nove pessoas.

“O assassinato do senhor da guerra levou dois meses para ser planejado e aprovado pelo mais antigo aliado e confidente do presidente russo Vladimir Putin, um ex-espião chamado Nikolai Patrushev”, diz o WSJ.

A teoria de que Prigozhin foi assassinado, resultado direto do levante contra Putin que ele e seus mercenários protagonizaram em junho, foi reforçada por um funcionário do Kremlin horas depois da queda do avião.

O indivíduo teria mantido contato com um representante de um governo europeu que tinha um canal secundário de comunicação com o Kremlin. Questionado pelo interlocutor sobre a morte de Prigozhin, o russo teria respondido que “ele teve que ser removido.”

O presidente russo Vladimir Putin (de preto) e Evgeny Prigozhin (à direita) (Foto: WikiCommons)
Na mira de Putin

O jato Legacy 600 da Embraer, de propriedade de uma empresa ligada a Evgeny Prigozhin, a MNT-Aero, caiu no dia 23 de agosto com dez pessoas a bordo, sete passageiros e três tripulantes, nas proximidades da cidade de Tver, norte da Rússia. Não houve sobreviventes.

O desastre levantou especulações quanto a um possível ataque, pois o empresário, chefe do Wagner Group, havia liderado em junho um fracassado motim na Rússia contra Putin. Embora tenha sido oficialmente perdoado, sob a condição de se exilar em Belarus, desde o levante Prigozhin vinha sendo falado como candidato a uma morte repentina e violenta.

Em entrevista ao jornal espanhol La Vanguardia, o ex-KGB Sergei Zhirnov disse que o chefe do Wagner Group havia se tornado “o inimigo mais perigoso” do presidente da Rússia, daí a possibilidade de “ser eliminado, principalmente agora, porque tentou derrubar Putin.”

A jornalista Candace Rondeaux já havia alertado para a ameaça à vida do empresário em artigo do início de março publicado pela rede CNN, antes mesmo do motim. Segundo ela, Pirgozhin era “alternadamente falado como um rival em potencial do presidente da Rússia, Vladimir Putin, ou um alvo de assassinato.”

A projeção foi compartilhada por Vlad Mykhnenko, especialista na transformação pós-comunista da Europa Oriental e da ex-União Soviética, da Universidade de Oxford, no Reino Unido. “Apostaria em Prigozhin sendo encontrado morto em um ‘suicídio’ encenado pelo Estado russo, com uma pistola na mão e uma nota de suicídio ridícula”, disse ele.

O especialista até sugeriu um roteiro alternativo, digno de filme de espionagem e que se aproxima do desfecho real. Quase premonitório. “Moscou também poderia fornecer à Ucrânia a geolocalização precisa de Prigozhin dentro de um alcance de foguete Himars de 70 quilômetros para acabar com ele e fornecer um ‘heroico’ impulso de recrutamento de propaganda para o ‘novo’ emasculado Wagner.”

O papel de Patrushev

Antes mesmo do levante, Prigozhin vinha ganhando poder dentro da Rússia graças ao Wagner Group, crucial para o sucesso russo na guerra da Ucrânia. A entidade também é, ainda hoje, o principal veículo de influência do Kremlin em locais como a África, onde lucra bilhões com a exploração de ouro e outras riquezas naturais em troca de acordos de segurança com governos locais.

Com o poder vieram os confrontos, e Prigozhin se converteu de um importante aliado em um crítico feroz das políticas de Putin na Ucrânia. Passou a atacar a estratégia russa na guerra, reclamando da falta de suprimentos para seus mercenários e disparando críticas constantes sobretudo contra o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, e o ministro da Defesa, Sergei Shoigu.

Patrushev, por sua vez, passou a ser uma importante voz no Kremlin ao alertar Putin para a crescente ameaça que Prigozhin representava. Não por acaso, estes dois eram invariavelmente apontados como possíveis sucessores do presidente no comando país.

O chefe do Wagner Group, com a popularidade em alta junto à população e aos militares, era visto como uma alternativa caso o líder russo viesse a ser substituído. Já o secretário do Conselho de Segurança Nacional é ainda hoje cotado como sucessor natural, como sugeriu o jornalista Andrey Kolesnikov em artigo para o think tank Carnegie Endowment for International Peace.

Com a morte de Prigozhin, porém, quem mais se fortaleceu foi o próprio Putin. A resistência interna que se erguia contra ele foi abafada, e a vitória na eleição do próximo ano agora é mera formalidade para que se mantenha no poder por ao menos mais um mandato.

Em boa parte, isso se deve a Patrushev e seu plano para matar o chefe do Wagner Group. “O seu papel em alguns dos capítulos mais sombrios da presidência de Putin sublinha as consequências muitas vezes mortais para qualquer pessoa que entre em conflito com o Kremlin”, afirma o WSJ.

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