O governo do Níger se juntou ao vizinho Mali e também anunciou o fim das relações diplomáticas com a Ucrânia, reflexo da influência crescente da Rússia no continente. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).
“O governo da República do Níger, em total solidariedade com o governo e o povo do Mali, decidiu, confiando em sua soberania, romper relações diplomáticas entre a República do Níger e a Ucrânia. Esta decisão entra em vigor imediatamente”, disse o porta-voz do governo Abdourahamane Amadou em um discurso televisionado.
No caso do Mali, a decisão está atrelada às acusações de que Kiev teve participação em uma ação que terminou com a morte de dezenas de mercenários do Wagner Group e também de soldados das Forças Armadas malinesas no mês passado. Com os dois regimes são aliados, o Níger decidiu acompanhar o parceiro na represália aos ucranianos.

No final de julho, ao menos 50 mercenários e militares morreram em um violento confronto no Mali. Os homens do Wagner e das Forças Armadas teriam sofrido uma emboscada realizada por uma facção rebelde formada por tuaregues e por membros do Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM), grupo extremista islâmico ligado à Al-Qaeda.
Depois do ataque, Andriy Yusov, porta-voz da agência de inteligência militar da Ucrânia (GUR), sugeriu que seu governo colaborou com os rebeldes. Segundo ele, os grupos que realizaram a emboscada receberam previamente “todas as informações de que precisavam, o que lhes permitiu realizar sua operação contra os criminosos de guerra russos.”
A Ucrânia não é a única derrotada pelo fortalecimento das relações entre Moscou e Niamey. O governo nigerino já havia expulsado do país as tropas norte-americanas que tinham um acordo com a nação africana para combater a insurgência islâmica.
Nesta semana, as Forças Armadas norte-americanas anunciaram a retirada de seus últimos soldados das duas bases militares que ocupavam no Níger, cedendo o controle das instalações ao governo local. Moscou vem assumindo o papel de principal parceiro nigerino no setor de segurança.
Representantes russos na África
Mesmo após a morte de fundador e líder Evgeny Prigozhin, em 23 de agosto de 2023. o Wagner Group segue ativo na África devido à importância estratégica do continente para o Kremlin. Trata-se de uma fonte de renda crucial para o país, afogado nos gastos com a guerra da Ucrânia. Moscou faturou, somente desde o início do conflito, US$ 2,5 bilhões com ouro de países africanos.
A Rússia ainda mantém laços políticos e econômicos históricos com vários países africanos, que vêm desde a Guerra Fria. Nos últimos anos, tais relações se fortaleceram, inclusive com acordos militares entre Moscou e alguns regimes, envolvendo vendas de armas, treinamento de forças locais e, em alguns casos, o estabelecimento de instalações russas.
Os mercenários têm a missão de combater a insurgência islâmica em Burkina Faso, Mali e Níger. Além da intensa presença russa, esses três países africanos guardam outra semelhança, pois são atualmente governados por juntas militares que tomaram o poder através de golpes de Estado.