As Forças Armadas norte-americanas se retiraram definitivamente das duas bases militares que ocupavam no Níger, cedendo o controle das instalações ao governo local. Assim, os EUA encerram a parceria com a nação africana voltada ao combate ao extremismo islâmico, missão que a partir de agora será exercida exclusivamente pelas forças da Rússia. As informações são do jornal The New York Times.
Ao romperem o vínculo com Niamey, os militares dos EUA deixam para trás uma base em Agadez que foi erguida com dinheiro norte-americana, ao custo de US$ 110 milhões. Um grupo reduzido permanecerá por um curto período de tempo nas instalações apenas para finalizar processos administrativos até 15 de setembro, prazo final para a saída.
“Isso torna a salvaguarda dos interesses de segurança dos EUA no Sahel muito mais difícil”, disse o major-general Kenneth Ekman, da Força Aérea norte-americana, principal autoridade encarregada da retirada. “As ameaças do EI (Estado Islâmico) e da Al-Qaeda na região estão piorando a cada dia.”
No total a mais recente etapa da retirada de tropa envolveu cerca de 400 de uma base na capital, além de outros 600 que estavam em Agadez. Muitos veículos foram deixados para trás e a partir de agora serão usados pelas Forças Armadas do Níger.
Na base de Niamey, enquanto as forças dos EUA ali permaneciam, chegaram a dividir o local com tropas da Rússia, conforme relatou em maio a agência Reuters. À época, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, disse ao jornal The Moscow Times que a presença dos russos no mesmo local não expôs o aparato norte-americano, apesar da proximidade.
Rússia substitui aliados ocidentais
A saída das tropas norte-americanas deixa o terreno livre para os russos, que vêm colhendo os frutos da crise democrática que se instalou na África, com uma sucessão de golpes de Estado que colocaram no poder juntar militares alinhadas com o Kremlin. Após Burkina Faso e Mali, o Níger foi palco da tomada de poder mais recente, em julho de 2023.
Uma das medidas do governo militar liderado pelo general Abdourahamane Tchiani foi romper acordos de segurança com França e EUA, determinando que as tropas dos dois países se retirassem. A relação entre Níger e Rússia foi uma das causas da crise entre o país africano e Washington, de acordo com o primeiro-ministro nigerino, Ali Mahaman Lamine Zeine, apontado pelos militares para governar o país.
Em maio, ele afirmou ao jornal The Washington Post que teve uma reunião com desfecho insatisfatório com Molly Phee, principal autoridade do Departamento de Estado norte-americano para assuntos africanos.
De acordo com o premiê, durante o encontro, ela teria contestado a aproximação entre o governo militar nigerino e a Rússia e determinado também o fim do diálogo entre a nação africana e o Irã. Se não fosse atendida, o acordo de segurança entre Níger e EUA seria cancelado. Zeine, então, optou por romper ele mesmo o pacto e expulsar as tropas norte-americanas.
A aliança com Moscou, ao contrário daquela com Washington, não se faz através das Forças Armadas regulares, e sim de de mercenários. O Wagner Group foi quem primeiro se estabeleceu no continente, mas vem sendo desfeito desde a morte de seu líder, Evgeny Prigozhin.
Outros grupos surgiram nos mesmos moldes, e quem melhor se posiciona para assumir o espólio do antecessor é uma organização paramilitar privada chamada “The Africa Corps“, atrelada ao Ministério da Defesa russo, embora não seja integrada às Forças Armadas.
O porta-voz militar do Níger, coronel major Amadou Abdramane, confirmou em junho a parceria com a Rússia, mas disse que ela foi negociada “sob uma base estatal, conforme acordos de cooperação militar assinados com o governo anterior (pré-golpe), para adquirir equipamento militar necessário à sua luta contra os terroristas que fizeram milhares de vítimas nigerinas inocentes sob o olhar indiferente de grande parte da comunidade internacional.”
Para Moscou, a África representa ainda uma fonte de renda crucial, conforme o país se afoga nos gastos com a guerra da Ucrânia. A Rússia faturou, somente desde o início do conflito, US$ 2,5 bilhões com ouro de países africanos.