Os últimos dias foram excepcionalmente violentos na Somália, palco de um confronto entre as Forças Armadas e o grupo extremista Al-Shabaab. Números reportados pelas duas partes sugerem que mais de 200 pessoas morreram, entre militares, terroristas e civis.
De acordo com a rede Voice of America (VOA), os números indicam que os militares tiveram na segunda-feira (22) uma de suas operações mais bem-sucedidas em muitos meses.
“No geral, matamos 135, confirmado”, disse o porta-voz das forças regionais da região de Jubaland, major Mohamed Farah Dahir. “Também apreendemos armas de seus mortos. Nunca vi um número tão grande de mortes em minha vida em um só lugar.”
Os números sugeridos pelo major, entretanto, são bastante superiores aos reportados pelo governo central, que fala em “mais de 80” extremistas mortos na operação. Ao menos 20 insurgentes teriam sido presos pelas forças de segurança.
Por sua vez, a organização extremista ligada à Al-Qaeda diz que também obteve sucesso. Sem citar o número de baixas de seu lado, afirma que 71 soldados foram mortos, de acordo com o site The Defense Post, que por sua vez cita como fonte o grupo de monitoramento de terrorismo SITE. Entretanto, a facção habitualmente exagera nas estatísticas ao relatar mortes de militares.
De acordo com as Forças Armadas, a operação ocorreu em resposta a uma série de ataques do Al-Shabaab contra a população civil e posições militares. O principal alvo teria sido uma base das Forças Armadas na cidade de Bulo Haji, na região de Lower Jubba.
Por que isso importa?
O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.
O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques contra órgãos e oficiais do governo e entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.
Civis são frequentemente vitimados pelos atentados. Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram em 2022 na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).
Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de civis atingidos pelas tropas do governo, por milícias armadas aliadas às Forças Armadas e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.