Ataque atribuído ao Al-Shabaab deixa quatro pessoas mortas no Quênia

Alvos dos insurgentes são sobretudo agentes de segurança quenianos, em retaliação ao apoio do governo local à luta contra o terrorismo

Um ataque a bomba realizado no Quênia, perto da fronteira com a Somália, deixou quatro pessoas mortas na segunda-feira (25). A suspeita é de que a ação tenha sido perpetrada pelo Al-Shabaab, grupo extremista somali que cada vez mais consegue age também em países vizinhos. As informações são do site The Defense Post.

Os jihadistas atacaram um hotel em Mandera, nordeste do país. Entre os mortos estão três agentes das forças de segurança quenianas, e as autoridades locais disseram que muitas pessoas também ficaram feridas.

“Suspeitamos do envolvimento do Al-Shabaab neste incidente”, disse um policial na terça-feira (26). “Uma grande operação de segurança está em andamento e uma investigação sobre o envolvimento de pessoas com quem trabalham localmente.”

A ação foi a segunda em um curto intervalo de tempo atribuída ao Al-Shabaab no Quênia. No final de semana, dois reservistas da polícia foram mortos na costa norte do país durante uma emboscada.

Desde 2023 tem aumentado o número de ataques realizados pelo Al-Shabaab no Quênia, situação que colocou as forças de segurança do país em alerta. O grupo extremista originário da Somália cruzou a fronteira e levou o governo queniano a organizar uma operação de contraterrorismo com a promessa de conter a ameaça.

Os alvos dos insurgentes são sobretudo agentes de segurança quenianos e ocorrem em retaliação ao apoio do governo local à luta contra o terrorismo. As tropas de Nairóbi se juntaram às da União Africana (UA) em 2011 e atualmente estão entre as mais numerosas da missão de paz do bloco, que visa a conter o extremismo islâmico no continente.

Na Somália, o Al-Shabaab vinha agindo pouco até o início do mês, quando realizou um ataque ao Hotel Syl, em Mogadíscio. Após o período de calmara, o grupo prometeu intensificar suas ações durante o Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos.

Forças de defesa do Quênia atuam no resgate de reféns do Al-Shabaab na capital do Sudão do Sul, Juba, em maio de 2014 (Foto: Amison/Ramadan Mohamed)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques contra órgãos e oficiais do governo e entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Civis são frequentemente vitimados pelos atentados. Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram em 2022 na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de civis atingidos pelas tropas do governo, por milícias armadas aliadas às Forças Armadas e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto de 2022, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você.”

Mais tarde, em agosto de 2023, o chefe de Estado afirmou que o objetivo é derrotar completamente os extremistas em 2024. “Se não os eliminarmos completamente, talvez haja alguns bolsões com alguns Al-Shabaabs inofensivos que não poderão causar problemas”, disse ele.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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