Ataque de homens armados termina com a morte de 50 pessoas em Burkina Faso

As vítimas viajavam para uma cidade próxima a Pama, na fronteira com Benin e Togo, região de forte presença jihadista

Cerca de 50 pessoas morreram em um ataque armado no leste de Burkina Faso na quarta-feira (25). A informação foi confirmada na quinta (26) por Hubert Yameogo, governador da região, e reproduzida pela agência Reuters.

Yameogo não informou se as forças de segurança já descobriram quem foram os autores do ataque, que ocorreu na região de Madjoari, província de Kompienga. As vítimas viajavam para uma cidade próxima à comuna de Pama, na fronteira com Benin e Togo. A área tem forte presença de grupos jihadistas ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico (EI).

Soldados das forças de Burkina Faso durante exercício militar (Foto: WikiCommons)

Um recente relatório de segurança fornecido a equipes de ajuda humanitária afirmou que uma onda de violência no país matou quase 60 pessoas em 72 horas na semana passada.

Num desses episódios, 11 soldados do exército burquinabê morreram e mais de 20 ficaram feridos em um ataque realizado por jihadistas contra uma base militar no leste do país, no dia 19 de maio. A ação também ocorreu em Madjoari e terminou com a morte de 15 extremistas.

“Este ataque em Madjoari é mais uma indicação da capacidade dos militantes de atacar as bases das forças de segurança e, infelizmente, mostra a gravidade da situação de segurança nas regiões norte e leste”, disse Rida Lyammouri, membro sênior do Centro de Políticas para o Novo Sul, uma organização marroquina focada em economia e política.

Por que isso importa?

Burkina Faso convive desde 2015 com a violência de facções da Al-Qaeda e do EI, insurgência que levou a um conflito com as forças de segurança e matou milhares de pessoas. Grupos armados lançam ataques ao exército e a civis, desafiando também a presença de tropas francesas e internacionais.

Os ataques costumavam se concentrar no norte e no leste, mas agora estão se alastrando por todo o país. O pior ataque jihadista já registrado em Burkina Faso ocorreu em 5 de junho de 2021, quando insurgentes incendiaram casas e atiraram em civis ao invadirem a vila de Solhan, no norte. Na ocasião, 160 pessoas morreram.

Após um período de relativa calmaria, a violência aumentou nos últimos meses, após a tomada do poder no país por uma junta militar, em janeiro de 2022. Oficiais descontentes derrubaram o presidente eleito Roch Marc Christian Kabore, que vinha enfrentando protestos pela forma como lidou com a sangrenta insurgência jihadista.

Para especialistas, os recentes ataques sugerem que os extremistas decidiram aproveitar a divisão pública no país após a tomada do poder. “Os novos ataques sinalizam uma onda crescente de militância no norte de Burkina Faso e levantam preocupações sobre o alcance crescente de grupos terroristas que, sem dúvida, estão dificultando ainda mais o trabalho da junta de proteger o país”, disse Laith Alkhouri, CEO da Intelonyx Intelligence Advisory, uma empresa que realiza análises no setor de inteligência.

Os ataques de grupos extremistas geraram uma crise humanitária que forçou mais de dois milhões de pessoas a fugirem de suas casas, com cerca de duas mil mortes ligadas ao conflito. Estima-se que quase 5 milhões de pessoas sofram de insegurança alimentar, com quase 3 milhões em situação de insegurança alimentar aguda.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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