Ataque triplo com carros-bomba na Somália mata ao menos 20, incluindo autoridades

Testemunhas disseram que viram quando os veículos carregados de explosivos detonaram. Entre as vítimas estão dois funcionários do governo local

Pelo menos 20 pessoas morreram em um ataque triplo com carro-bomba na segunda-feira (3) na Somália, entre elas dois funcionários do governo local. Segundo relato de testemunhas, dois veículos carregados de explosivos detonaram pela manhã e um terceiro à tarde em Beledweyne, cidade a cerca de 300 quilômetros da capital Mogadíscio. As informações são da rede Voice of America (VOA).

Segundo o comissário de polícia de Beledweyne, Bishar Hussein Jimale, os ataques foram coordenados pelo Al-Shabaab, organização jihadista associada à Al-Qaeda. Ele acrescentou que entre as vítimas, além de civis e soldados, estão autoridades, incluindo o vice-comissário de finanças na região de Hiran e deputados e ministros em Hirshabelle.

Ainda na segunda, a autoridade policial disse que o trabalho de resgate seguia em andamento na busca de pessoas feridas, bem como para encontrar e identificar corpos.

“Lamentamos, mas não choramos”, disse ele, prometendo vingança contra o Al-Shabaab.

Pelo menos 20 pessoas, incluindo ministros de Estado, foram mortas e outras 30 ficaram feridas (Foto: Twitter/Reprodução)

Dois dos ataques atingiram a base militar de Lama Galaay, que abriga os escritórios do presidente regional e vários funcionários do governo local. Já o terceiro carro-bomba explodiu enquanto se dirigia para o mesmo alvo.

Os ataques ocorrem dois dias após o governo somali ter anunciado a morte de um comandante da organização terrorista conhecido como Abdullahi Nadir, ocorrida após um ataque aéreo na região de Middle Juba. A queda do líder foi descrita pelo governo local como um “espinho removido da nação somali”.

Nadir, que atuou como chefe de finanças do Al-Shabaab, era apontado como provável substituto do líder do grupo, Ahmed Diriye, que estaria doente. Sua cabeça havia sido colocada a prêmio pelo governo dos EUA e a recompensa era de US$ 3 milhões.

Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar a capital Mogadíscio, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um relatório do International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional, em tradução literal), cuja meta é prevenir guerras em todo o mundo, diz que derrotar o Al-Shabaab é uma tarefa complexa devido à quantidade de seguidores em território somali, algo na casa dos cinco mil. Assim, a melhor estratégia para o governo somali seria a negociação

“Combinada com a disfunção e a divisão entre seus adversários, a agilidade dos militantes permitiu que se inserissem na sociedade somali”, diz o documento. “Há um crescente consenso nacional e internacional de que o Al-Shabaab não pode ser derrotado apenas por meios militares”.

O relatório, porém, afirma que a diplomacia não vem sendo considerada pelo governo. “Há pouco apetite entre as elites somalis ou os parceiros internacionais do país para explorar alternativas, principalmente conversas com líderes militantes”. E acrescenta: “A alternativa é mais luta sem um fim à vista”.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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