Ataques aéreos deixam ao menos dez mortos em área residencial de Tigré

Entre os mortos há pessoas que estavam no local justamente para ajudar vítimas de um bombardeio anterior

Um segundo dia de ataques aéreos na região de Tigré, norte da Etiópia, deixou ao menos dez pessoas mortas nesta quarta-feira (14), inclusive mulheres. O bombardeio ocorre em meio à possibilidade de que um cessar-fogo seja negociado entre os rebeldes que dominam a área e o governo central etíope. As informações são da agência Associated Press.

Entre os mortos há pessoas que estavam no local justamente para ajudar vítimas de um bombardeio anterior, segundo Kibrom Gebreselassie, diretor de um hospital local. “Três das vítimas precisam de uma grande cirurgia urgente, em face da escassez de medicamentos”, disse ele, afirmando que o ataque atingiu uma área residencial na capital regional Mekelle.

De acordo com Gebreselassie, um primeiro ataque aéreo deixou duas pessoas feridas e mobilizou o atendimento a essas vítimas. Então veio o segundo ataque, este mortal, vitimando inclusive os socorristas. E os números podem aumentar, vez que o hospital recebeu muitos feridos logo após o bombardeio.

Após um período de relativa calmaria no conflito entre os rebeldes e as forças armadas da Etiópia, o mês de agosto viu uma escalada de tensão que gerou mais mortes. Como consequência, Tigré foi mais uma vez bloqueada inclusive para a entrada de ajuda humanitária, que ate então conseguia acessar a região com certa facilidade.

Os rebeldes da TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), partido político com um braço armado que controla a região, haviam aceitado nos últimos dias sentar à mesa de negociações para estabelecer um cessar-fogo intermediado pela União Africana (UA). Entretanto, o governo etíope ainda não respondeu à proposta.

Exército de Tigré em novembro de 2020 (Foto: TV Tigray)

Por que isso importa?

A região de Tigré, no extremo norte da Etiópia, está imersa em conflitos desde novembro de 2020, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. A disputa opõe a TPLF às forças de segurança nacionais da Etiópia.

Os militares chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho de 2021, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle.

Pouco após a derrota do exército, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército aliada Eritreia também deixaram de ser vistos por lá. Posteriormente, com o avanço dos rebeldes, que chegaram às regiões vizinhas de Amhara e Afar, o exército foi enviado novamente para apoiar as tropas locais.

Durante o conflito, a TPLF se aliou ao OLA (Exército de Libertação Oromo, da sigla em inglês), que em 2020 se desvinculou do partido político homônimo e passou a defender de maneira independente a etnia Oromo, a maior da Etiópia.

A coalizão passou a superar o exército nos confrontos armados e chegou a ameaçar rumar para a capital, sem sucesso. A situação estava relativamente calma em 2022 até agosto, quando nos confrontos eclodiram. Acredita-se que dezenas de milhares de pessoas tenham morrido no conflito, com milhões de deslocados das regiões de Tigré, Amhara e Afar.

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