Boko Haram realiza dois ataques em Camarões e deixa 12 pessoas mortas

Grupo originário da Nigéria cruzou a fronteira e matou civis, militares e agentes do governo em duas ações distintas

Insurgentes ligados ao Boko Haram, grupo extremista associado à Al-Qaeda, cruzaram a fronteira da Nigéria rumo a Camarões, onde realizaram duas violentas ações que terminaram com a morte de ao menos 12 pessoas na terça-feira (30). As informações são da rede Voice of America (VOA)

As duas ações distintas dos extremistas ocorreram nas cidades de Mora e Zigage, no extremo norte camaronês, perto da fronteira com o território nigeriano. Os agressores saquearam casas e comércio e atacaram indiscriminadamente quem encontraram pelo caminho.

De acordo com Midjiyawa Bakari, governador da região, as primeiras vítimas identificadas foram dois agentes alfandegários, três soldados das forças armadas camaronesas e dois civis. Outros cinco corpos foram encontrados mais tarde.

“Os combatentes do Boko Haram estão em grande número ao longo da fronteira com a Nigéria e contamos com a colaboração entre militares e civis para deter esta nova onda de ataques”, disse Bakari à agência Associated Press (AP), acrescentando que vários feridos estão hospitalizadas.

Ataques do Boko Haram em Camarões tornaram-se mais frequentes nos últimos anos, período em que o grupo passou a colecionar derrotas na Nigéria e foi forçado a expandir sua área de atuação.

No caso dos ataques mais recentes, o governo camaronês disse que centenas de insurgentes cruzaram a fronteira na noite de segunda-feira (29), levando a uma mobilização das forças armadas locais.

Devido ao episódio, o presidente de Camarões, Paul Biya, ordenou o aumento das patrulhas na região de fronteira e solicitou a Nigéria e Chade, igualmente afetados pela insurgência islâmica, que enviassem mais soldados.

Integrantes do Boko Haram em vídeo divulgado na internet, dezembro de 2017 (Foto: Reprodução/Youtube)
Por que isso importa?

Os terroristas do Boko Haram lutam para criar um califado islâmico no nordeste da Nigéria. A ação já se espalhou para países vizinhos como Camarões, Chade, Níger e Benin, com assassinatos regulares, queima de mesquitas, igrejas, mercados e escolas e ataques a instalações militares.

Ultimamente, porém, o grupo passou a colecionar derrotas. Em junho de 2021, militantes do Boko Haram gravaram um vídeo no qual confirmaram a morte de Abubakar Shekau, seu notório ex-comandante.

Shekau morreu no dia 19 de maio, em um confronto com jihadistas do rival ISWAP (Estado Islâmico da Província do Oeste da África) na floresta de Sambisa. “Shekau detonou uma bomba e se matou”, disse um militar nigeriano à época, em áudio ouvido pelo Wall Street Journal.

Formado por dissidentes do Boko Haram, o ISWAP se afastou de Shekau em 2016 e passou a se concentrar em alvos militares e ataques de alto perfil, inclusive trabalhadores humanitários. Depois da morte de Shekau, informações sugerem que houve uma aproximação entre os dois grupos, algo jamais confirmado oficialmente.

A insurgência islâmica na região já matou mais de 36 mil pessoas, principalmente na Nigéria, e deslocou cerca de três milhões, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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