Burkina Faso expulsa diplomatas franceses e aumenta distanciamento do Ocidente

Uagadugu alega que os funcionários do governo francês são responsáveis por 'atividades subversivas' e têm 48 horas para ir embora

Desde janeiro de 2022 sob um governo militar, que chegou ao poder através de um golpe de Estado, Burkina Faso se distancia cada vez mais de seus antigos parceiros ocidentais. Mais um passo nesse sentido foi dado na quinta-feira (18), quando o país africano anunciou a expulsão de três diplomatas franceses. As informações são da agência Al Jazeera.

Os três funcionários do governo francês expulsos foram identificados como Gwenaelle Habouzit, Herve Fournier e Guillaume Reisacher. Acusados de “atividades subversivas”, a respeito das quais o governo burquinense não deu maiores detalhes, os três receberam o prazo de 48 horas para deixar a nação africana.

Christophe Lemoine, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores francês, classificou as acusações como “infundadas” e disse que não há “motivos legítimos para a decisão das autoridades burquinenses”. Então, concluiu: “Só podemos deplorá-la.”

Presidente interino de Burkina Faso, Ibrahim Traore (Foto: Alexei Danichev/kremlin.ru)

A expulsão dos diplomatas é mais uma ação no processo de distanciamento entre Burkina Faso e França iniciado com o golpe de Estado na nação africana. A antiga potência colonial era parceira de Uagadugu no combate ao extremismo islâmico, mas o acordo foi rompido tão logo o capitão Ibrahim Traoré assumiu o poder.

Vitória da Rússia

Burkina Faso convive desde 2015 com a violência de facções da Al-Qaeda e do Estado Islâmico (EI), insurgência que levou a um conflito com as forças de segurança e matou milhares de pessoas. O golpe de Estado de 2022 ocorreu justamente sob a justificativa de que o governo democraticamente eleito do presidente Roch Marc Christian Kabore não vinha sendo bem-sucedido no combate aos insurgentes.

Especialistas, entretanto, alegam que os extremistas aproveitam a divisão pública no país para intensificar sua atuação, gerando uma crise humanitária que forçou mais de dois milhões de pessoas a fugir de suas casas, com milhares de mortes ligadas ao conflito. Estima-se que quase cinco milhões de pessoas sofram de insegurança alimentar em Burkina Faso, três milhões delas no estágio agudo.

Sem o respaldo francês, Burkina Faso acompanhou o vizinho Mali e investiu em uma parceria com a Rússia, cujo governo vem sendo representado na nação africana pelos mercenários do Wagner Group, organização que agora vive futuro incerto devido à morte de seu líder, Evgeny Prigozhin.

Moscou, porém, não admite abrir mão de sua posição na África, que representa uma fonte de renda crucial conforme o país se afoga nos gastos com a guerra da Ucrânia. A Rússia faturou, somente desde o início do conflito, US$ 2,5 bilhões com ouro de países africanos.

Com o Wagner perto da extinção, outros grupos surgiram nos mesmos moldes, e quem melhor se posiciona para assumir o espólio do antecessor é uma organização paramilitar privada chamada “The Africa Corps“, atrelada ao Ministério da Defesa russo, embora não seja integrada às Forças Armadas.

A França vê a ascensão russa com desconfiança, mas sempre deixou claro que a ruptura com Burkina Faso é exclusivamente militar, não diplomática. Agora, com a expulsão dos três funcionários do governo francês, o cenário pode mudar.

Embora tenha acatado a decisão, Paris insiste que as atividades dos diplomatas eram legítimas e se enquadravam no quadro das Nações Unidas para as relações diplomáticas e consulares, segundo relatou a agência Associated Press (AP).

Tags: