A crescente instabilidade no Sahel, marcada por insurgências, golpes de Estado e tensões políticas, tem aberto caminho para a expansão da influência chinesa. Durante uma visita recente à região, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, reforçou o compromisso de Beijing em fornecer auxílio militar, prometendo US$ 136 milhões em equipamentos e treinamento para seis mil soldados e mil policiais em países africanos. As informações são da rede Voice of America (VOA).
A visita de Wang ocorreu em um momento de transição no Sahel, com o enfraquecimento das relações entre os países locais e potências ocidentais, como França e Estados Unidos. Em dezembro, o Chade tornou-se o mais recente país a expulsar tropas francesas, seguindo o exemplo de Mali, Burkina Faso e Níger. Essa tendência reflete o aumento do sentimento antiocidental na região, que tem buscado diversificar parcerias de segurança.
Segundo analistas citados pela VOA News, a China tem capitalizado essa oportunidade oferecendo opções de segurança mais flexíveis e menos onerosas. Países como o Chade e a Nigéria, que enfrentam insurgências, já começaram a adquirir armas e equipamentos chineses, destacando a crescente dependência da região de fornecedores não ocidentais.

A visita de Wang também coincidiu com um ataque à residência presidencial no Chade, destacando a insegurança local. Embora o ataque tenha sido controlado, especialistas apontam que esses episódios reforçam a importância da cooperação militar para a estabilidade da região.
A França, que mantém uma longa história de influência no Sahel, viu sua posição enfraquecer após comentários polêmicos do presidente Emmanuel Macron, que sugeriu que os países africanos “esqueceram de agradecer” pela ajuda militar francesa. Segundo o jornal The Guardian, essas declarações alimentaram ainda mais o sentimento anti-França, abrindo espaço para outras potências, como China e Rússia.
Além do apoio militar, a China promove sua Iniciativa de Segurança Global, lançada em 2022 pelo presidente Xi Jinping, que busca oferecer soluções multilaterais para conflitos sem interferência direta. Essa abordagem, menos intervencionista, é vista por muitos líderes africanos como uma alternativa atraente às condições impostas por parceiros ocidentais.
Embora a China evite um envolvimento militar direto, sua estratégia de oferecer treinamento e vender armas tem ganhado terreno. De acordo com especialistas, essa abordagem permite a Beijing expandir sua influência sem os riscos associados ao envio de tropas ou à gestão de conflitos locais.
No entanto, os mesmos analistas apontam que a estratégia chinesa não é isenta de desafios. Muitos países africanos ainda têm dúvidas sobre como a Iniciativa de Segurança Global se aplica a seus contextos específicos. Além disso, a China precisa equilibrar sua crescente presença no continente com o objetivo de evitar o tipo de ressentimento político que desgastou a imagem de potências ocidentais.
Com a saída gradual de tropas dos EUA e da França, a região do Sahel se torna um campo de disputa entre novas e antigas potências. Para a China, a situação oferece uma oportunidade de fortalecer laços políticos e econômicos com países africanos, enquanto explora mercados para suas indústrias de defesa.
Embora Beijing não demonstre interesse em substituir completamente os atores ocidentais, sua presença crescente no Sahel simboliza um reposicionamento estratégico que reflete as mudanças no equilíbrio global de poder.