‘Milhões de crianças estão a apenas uma doença de uma catástrofe’ na África, diz Unicef

Chifre da África e Sahel enfrentam uma terrível combinação de desnutrição grave e risco de doenças transmitidas pela água

Crianças do Chifre da África e do Sahel enfrentam desnutrição grave e risco de doenças transmitidas pela água. Nesta terça-feira (23), o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) alertou para um possível número “arrasador” de mortes por causa da situação, que pode ser evitada com apoio internacional urgente.

Uma nota sobre esta Semana Mundial da Água revela que mais de 2,8 milhões de crianças sofrem de subnutrição aguda grave nas duas regiões. A proporção do risco de morte por doenças transmitidas pela água é 11 vezes mais alta do que em menores bem nutridos.   

A diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, lembra que “a história mostra que, quando altos níveis de desnutrição aguda grave em crianças se combinam com surtos de cólera ou diarreia, a mortalidade infantil aumenta de forma dramática e trágica.”  

Para a chefe da agência, “quando a água não está disponível ou não é segura, os riscos para as crianças se multiplicam exponencialmente”. Mas, para o caso do Chifre da África e do Sahel, “milhões de crianças estão a apenas uma doença de uma catástrofe”. 

Crianças refugiadas carregam água no Sudão do Sul, janeiro de 2014 (Foto: Oxfam East Africa/Geoff Pugh)

O número de vítimas da seca sem acesso a uma fonte confiável de água potável aumentou de 9,5 milhões em fevereiro para 16,2 milhões em julho na Etiópia, no Quênia e na Somália. A situação coloca crianças e suas famílias em risco crescente de contrair doenças como cólera e diarreia.

Quase todos os distritos somalis afetados pela seca notificaram um cumulativo de 8,2 mil casos de diarreia aguda e de cólera no primeiro semestre deste ano. O total corresponde a mais do dobro do número de pacientes do mesmo período de 2021. 

Crianças com menos de cinco anos são quase dois terços das vítimas. De junho de 2021 ao mesmo período deste ano, a atuação do Unicef com parceiros tratou mais de 1,2 milhão de casos de diarreia no grupo etário nas regiões de Afar, Somali, SNNP e Oromia na Etiópia.

No Quênia, mais de 90% das fontes de água de superfície, de fontes como lagoas e poços abertos estão esgotadas ou secaram. A situação é tida como “um sério risco de surto de doenças”.

No caso do Sahel, a disponibilidade do recurso também diminuiu mais de 40% nos últimos 20 anos. A situação deveu-se a fatores como alterações climáticas e conflitos que expõem milhões de crianças e famílias em maior risco de doenças transmitidas pela água. 

A África Ocidental e Central registrou o pior surto de cólera da região nos últimos seis anos no ano passado. O total inclui 5.610 casos e 170 mortes do Sahel Central.   

Tanto no extremo oriental africano como no Sahel, o Unicef oferece auxílio essencial e serviços em diversos setores para resiliência de crianças que precisam urgentemente de ajuda e suas famílias.

As ações envolvem oferecer serviços para melhorar o acesso à água diante das condições climáticas, serviços de saneamento e higiene e perfurações para a criação de fontes confiáveis subterrâneas. O trabalho envolve ainda alargar sistemas solares, rastrear e tratar crianças com subnutrição e serviços de prevenção.

A agência da ONU diz contar com 3% de fundos do apelo para melhorar a resiliência das famílias a longo prazo na região do extremo leste da África. A meta é impedir mais mortes devido à seca nos próximos anos. Já para o Sahel Central, o valor para a resposta às necessidades das crianças e famílias vulneráveis chega a 22% do necessário para atuar em iniciativas dos setores de água, saneamento e higiene.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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