Seca severa no Chifre da África eleva casos de casamento infantil

Meninas de até 12 anos são submetidas à força a mutilação genital e a contrair matrimônio em meio à pior estiagem em 40 anos

Casos de mutilação genital feminina e casamento infantil estão subindo a “níveis alarmantes” em regiões da Etiópia, um dos países mais afetados pela seca no Chifre da África, a região no extremo leste do continente. O alerta é do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).

A média de casos de casamentos de meninas mais que dobrou no espaço de um ano. E a quantidade de crianças sob risco de êxodo escolar na Etiópia, no Quênia e na Somália triplicou nos últimos 90 dias por causa da crise.

Protesto popular contra o casamento infantil no Malaui (Foto: Flickr)

Em todo o Chifre da África, as famílias estão encarando situações de desespero nas escolhas que fazem para sobreviver à seca agravada pela mudança climática, que mata rebanhos e gado, ao interromper as fontes de água num efeito dominó. Um outro fator é a guerra na Ucrânia, que elevou ainda mais o preço dos alimentos e do combustível.

Mais de 1,8 milhão de crianças estão precisando de cuidados para sobreviver por causa da subnutrição aguda. Somente na Somália, pelo menos 213 mil pessoas estão sob risco. Com o desespero, muitos pais e tutores estão entregando as meninas em casamento para assegurar o dote e sustentar o resto da família.

Homens cinco vezes mais velhos

Com a saída da criança que se casa, existe menos uma boca para alimentar e a esperança de que a noiva infantil irá para um lar com mais recursos.

O conselheiro de Proteção Infantil do Unicef para o Leste e Sul da África, Andy Brooks, disse que os níveis de casamento infantil e mutilação genital atingem meninas de até 12 anos com homens até cinco vezes mais velho. Para o Unicef, o casamento infantil e a mutilação genital acabam com a infância e expõem as meninas à violência doméstica e ao abandono da escola, criando o risco de uma vida inteira na pobreza.

Em toda a região, pelo menos 3,3 milhões de alunos deixaram de ir ao colégio. Para a agência da ONU, esta é uma crise das crianças e que precisa de financiamento imediato para uma resposta eficiente.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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