Detenções em massa no Egito: ONG pede soltura de 59 presos por críticas online ao governo

Anistia Internacional denuncia prisão arbitrária de dezenas de pessoas por postagens contra o governo de Abdel Fattah al-Sisi

A ONG Anistia Internacional (AI) pediu na quarta-feira (19) a libertação imediata de dezenas de pessoas detidas arbitrariamente no Egito sob acusações de terrorismo. Segundo a organização, as detenções ocorreram após publicarem conteúdo online em apoio a manifestações contra o governo do presidente Abdel Fattah al-Sisi. A repressão se intensificou às vésperas do aniversário da revolução de 25 de janeiro de 2011, data em que as autoridades egípcias historicamente aumentam o controle para evitar protestos pacíficos.

De acordo com a AI, desde o final de dezembro de 2024, pelo menos 59 pessoas foram presas arbitrariamente, incluindo quatro mulheres. Os detidos interagiram com a página do Facebook Revolution of the Joints” (“Revolução das Articulações”) ou com um canal no Telegram de mesmo nome, ambos críticos ao governo e defensores de mudanças políticas. Muitos deles passaram semanas desaparecidos ou em detenção incomunicável, sendo apresentados às autoridades apenas entre 8 e 12 de fevereiro. Alguns relataram terem sido espancados durante esse período.

“Em vez de prender obsessivamente dezenas de pessoas todos os anos nesta época, as autoridades egípcias deveriam abordar as causas do descontentamento popular, incluindo dificuldades econômicas”, disse Mahmoud Shalaby, pesquisador do Egito na Anistia Internacional. Segundo ele, a crise econômica e o declínio do padrão de vida são fatores centrais para as manifestações.

O presidente do Egito Abdel Fattah al-Sisi, imagem de setembro de 2015 (Foto: ONU/Flickr)

A organização documentou os casos de sete homens detidos entre 23 de dezembro de 2024 e 16 de janeiro de 2025, que foram presos por suas postagens em redes sociais. As prisões ocorreram em diversas províncias, incluindo Mansoura, Suez, Cairo, Qualyubiya, Damanhur e Alexandria. Os advogados afirmam que os detidos foram levados a instalações da Agência de Segurança Nacional (NSA) e permaneceram incomunicáveis por quatro a seis semanas antes de serem apresentados à Suprema Promotoria de Segurança do Estado (SSSP). Durante esse período, dois dos detidos permaneceram desaparecidos por 28 e 41 dias, sem informações fornecidas às suas famílias.

Os promotores interrogaram os detidos sobre suas afiliações políticas e os motivos para criticar o governo. Eles justificaram suas postagens citando a crise econômica e a dificuldade de atender às necessidades básicas diante da inflação. Apesar disso, foram acusados de crimes relacionados ao terrorismo, incluindo “juntar-se a um grupo terrorista”, “espalhar notícias falsas”, “incitar a cometer crime terrorista” e “financiamento do terrorismo”. Todos receberam prisão preventiva de 15 dias enquanto aguardam as investigações.

Relatos indicam que os homens foram interrogados por agentes da NSA com os olhos vendados e algemados, sem a presença de advogados. Quatro deles denunciaram agressões verbais e espancamentos, enquanto dois relataram choques elétricos. No entanto, os promotores não abriram investigações sobre essas denúncias.

Essa é a segunda vez em seis meses que o governo egípcio prende pessoas por expressarem apoio à mudança de governo. Em julho de 2024, 119 indivíduos foram detidos em pelo menos seis províncias por apoiarem online a chamada “Revolução da Dignidade”, que exigia mudanças políticas e protestava contra os aumentos de preços e cortes de energia.

A Anistia Internacional exige que as autoridades egípcias cessem as detenções arbitrárias e garantam o direito à liberdade de expressão no país.

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