Em decisão conjunta, Níger, Mali e Burkina Faso comunicam saída da CEDEAO

Países, que têm em comum governos militares golpistas, acusam bloco africano de se "distanciar dos princípios dos seus fundadores"

Níger, Mali e Burkina Faso, três nações vizinhas governadas por juntas militares que chegaram ao poder através de golpes de Estado, anunciaram sua retirada imediata da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), acusando a organização de se tornar uma ameaça aos seus membros. A decisão foi comunicada em um pronunciamento conjunto publicado no domingo (28), destacando a soberania na escolha da retirada, segundo informações da agência Al Jazeera.

No pronunciamento, o principal bloco econômico da região foi acusado pelos países de trair seus princípios e se tornar uma ameaça, sob a influência de potências estrangeiras. Os países alegam que a organização não apoiou efetivamente suas lutas contra o terrorismo e a insegurança, impondo sanções consideradas “ilegais, ilegítimas e irresponsáveis”.

Os países também argumentaram que o CEDEAO “se distanciou dos princípios dos seus fundadores e dos ideais do pan-africanismo” ao completar quase 50 anos de existência.

Chefes de Estado do Mali, Burkina Faso e Níger, três nações vizinhas governadas por juntas militares (Foto: @GoitaAssimi/Reprodução X)

A CEDEAO, por sua vez, afirmou não ter sido notificada oficialmente sobre a saída dos países do bloco. O protocolo estabelece que o processo de retirada pode levar até um ano. Apesar da decisão, a CEDEAO destaca que Burkina Faso, Níger e Mali continuam sendo “membros importantes”, e a entidade está comprometida em “buscar uma solução” negociada para o impasse político.

A CEDEAO, bloco de 15 nações da África Ocidental formado em 1975 para promover a integração econômica, enfrenta desafios diante de golpes frequentes na região. Considerado uma autoridade política regional, busca lidar com instabilidades e garantir benefícios equitativos dos recursos naturais para os cidadãos.

Os obstáculos são muitos. Recentemente, os países retirantes enfrentaram golpes militares: Mali (em 2020 e em 2021), Burkina Faso (2022) e Níger (2023).

Em resposta, a CEDEAO suspendeu esses países e impôs sanções severas a Niamei e Bamako.

“Aliança do Sahel”

As lideranças militares nos três países comprometeram-se a enfrentar o aumento de grupos armados violentos, formando a “Aliança dos Estados do Sahel” (AES). Essas nações cortaram os laços militares com a França, sua antiga potência colonial, após a retirada das tropas francesas devido aos golpes recentes.

O primeiro-ministro nomeado pelo exército do Níger, Ali Mahaman Lamine Zeine, expressou preocupação com o que considera “má fé dentro” da CEDEAO.

Em setembro do ano passado, Mali, Burkina Faso e Níger assinaram um pacto de defesa pelo qual se comprometem a agir militarmente em defesa mútua em caso de agressão externa.

Além dos golpes de Estado, os três aliados têm em comum uma extinta parceira com a França, ex-aliada deles no combate ao extremismo. Conforme se firmavam no poder, os militares expulsavam as tropas francesas, invariavelmente com o apoio da população. Assim, Mali, Burkina Faso e Níger voltaram suas atenções para a Rússia, que assumiu o papel que era de Paris.

O primeiro dos três países a trocar a aliança com a França por uma com a Rússia, ainda em 2022, foi o Mali, cujo líder, o coronel Assimi Goita, exaltou o pacto de defesa.

Em algumas regiões da África Ocidental, a CEDEAO está perdendo rapidamente sua efetividade e o apoio dos cidadãos. Muitos percebem a organização como representante apenas dos interesses dos líderes, não dos interesses da população em geral, conforme apontou Oge Onubogu, diretora do Programa África no think tank Wilson Center, sediado em Washington, repercutiu a agência Associated Press.

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