Especialistas alertam para o aumento da influência tecnológica da China na África

A gigante das comunicações Huawei, por exemplo, é responsável por mais de 70% da rede de telecomunicações do continente africano

A influência tecnológica da China tem crescido no mundo todo, sobretudo escorada na liderança global do país no campo da inteligência artificial. Na África não é diferente, e a presença massiva de empresas chinesas nessa área tem gerado questionamento e preocupação entre especialistas. As informações são da rede Voice of America (VOA).

Para Samuel Adekola, especialista em tecnologia de informação e comunicações (ICT, na sigla em inglês), a China pode usar sua vantagem competitiva para fortalecer sua influência no continente. “É realmente perigoso. Não consigo quantificar o quanto eles poderiam fazer, mas quem tem dados pode fazer muitas coisas. Você tem muitas informações sobre um grupo de pessoas, a nação inteira”, diz ele.

A gigante das comunicações Huawei, por exemplo, é responsável por mais de 70% da rede de telecomunicações do continente africano. E, na visão dos especialistas, a empresa é apenas uma pequena parte do domínio exercido pela China na África no setor de tecnologia.

Prédio da Huawei em ShenZhen, na China (Foto: Wikimedia Commons)

A preocupação com a presença chinesa na África cresceu bastante quando, em 2019, o jornal norte-americano The Wall Street Journal afirmou que a Huawei ajudou as autoridades de Uganda e Zâmbia a espionarem oponentes políticos, fortalecendo a repressão nos dois países. A empresa negou as acusações, mas se recusou a dar qualquer declaração.

Agora, a Huawei anunciou um projeto de dar treinamento a até 3 milhões de jovens africanos no campo da tecnologia digital de ponta, como a inteligência artificial. Na Nigéria, a ação já é realidade, e a empresa patrocinou uma competição tecnológica entre estudantes universitários.

“Fomos expostos a dispositivos e tecnologias que nunca experimentamos antes”, disse Muhammad Maihaja, estudante de engenharia da computação.

Mohammed Bashir Muazu, professor de engenharia da computação na Universidade Ahmadu Bello, não faz juízo de mérito. Ele diz apenas que não se surpreende com a influência tecnológica cada vez maior da China no continente,. “Vendo o nível de desenvolvimento tecnológico na China, acho que o que está realmente acontecendo é inevitável”.

Por que isso importa?

O governo chinês tem fortalecido sua posição em países do mundo inteiro ao influenciar a segurança nacional e os aparatos relacionados à comunicação das nações em que investe. Beijing tem exportado sua tecnologia de IA nativa para atividades em quase todas as esferas da vida cotidiana global.

“Desta forma, os chineses penetraram de forma inteligente na vida de pessoas em outros países sem obter seu consentimento, assim como nos casos de roubo de dados e de vigilância associados à comunidade uigur na região de Xinjiang, na China”, diz um artigo do jornal digital New Zimbabwe.

Ao promover a Inteligência Artificial, empresas chinesas apoiadas pelo Estado, como Huawei, ZTC e Hikvision, convenceram os países a acreditarem na noção de colaboração para desenvolver uma área até então intocada que poderia resultar em maior crescimento e progresso para a população local.

Acredita-se que, até agora, a China gastou mais de US$ 20 bilhões nesta indústria e prevê usar mais de US$ 100 bilhões em um futuro próximo para a expansão da IA. 

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