Ex-combatente do Al-Shabaab é nomeado ministro na Somália

Mukhtar Robow Ali, ex-vice-líder do grupo que fomenta a violência no Chifre da África há décadas, será chefe de Assuntos Religiosos

Um desertor do grupo extremista Al-Shabaab, facção somali da Al-Qaeda, foi integrado ao governo da Somália. Muktar Robow Ali, ex-vice-líder e ex-porta-voz da organização, foi anunciado na terça-feira (2) como chefe de Assuntos Religiosos, um novo gabinete. A medida é vista como uma moeda de dois lados: pode ajudar na luta contra os rebeldes ou provocar confrontos. As informações são da rede CNN.

Na TV, o primeiro-ministro Hamza Abdi Barre citou o currículo do novo integrante de sua equipe ministerial ao dizer que Robow, também conhecido como Abu Mansur, já teve uma recompensa de US$ 5 milhões por sua cabeça.

O gabinete a ser coordenado por Robow, que terá uma equipe formada por 26 nomes, ainda precisará da aprovação do parlamento somali.

Muktar Robow é ex-integrante do grupo militante islâmico afiliado à Al-Qaeda (Foto: WikiCommons)

Após travar uma longa disputa com seu antigo líder, Ahmed Abdi Godane, morto há oito anos por um drone dos EUA, Robow desertou em 2013 do Al-Shabaab, que há décadas age na nação do Chifre da África.

O ex-combatente é tido como um dos mais proeminentes integrantes do grupo a deixar a militância islâmica, segundo analistas. Em 2017, ele próprio denunciou publicamente sua participação, prometendo apoio às autoridades somalis. Ele ficou em prisão domiciliar nos últimos três anos. No entanto, Muktar Robow Ali foi incapaz de persuadir um número expressivo de rebeldes a se render junto com ele.

Por que isso importa?

O Al-Shabbab chegou a controlar a capital da Somália, Mogadíscio, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro do país. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Dados apontam que os extremistas estiveram em mais de 400 episódios violentos no país entre julho e setembro do ano passado – o maior número desde 2018.

Um relatório do International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional, em tradução literal), cuja meta é prevenir guerras em todo o mundo, diz que derrotar o Al-Shabaab é uma tarefa complexa devido à quantidade de seguidores em território somali, algo na casa dos cinco mil. Assim, a melhor estratégia para o governo somali seria a negociação

“Combinada com a disfunção e a divisão entre seus adversários, a agilidade dos militantes permitiu que se inserissem na sociedade somali”, diz o documento. “Há um crescente consenso nacional e internacional de que o Al-Shabaab não pode ser derrotado apenas por meios militares”.

O relatório, porém, afirma que a diplomacia não vem sendo considerada pelo governo. “Há pouco apetite entre as elites somalis ou os parceiros internacionais do país para explorar alternativas, principalmente conversas com líderes militantes”. E acrescenta: “A alternativa é mais luta sem um fim à vista”.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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