Explosão de caminhão-bomba deixa mais de 20 pessoas mortas na Somália

Nenhum grupo reivindicou a autoria do ataque até o domingo, mas todo os indícios apontam para o Al-Shabaab

Mais de 20 pessoas morreram e cerca de 50 ficaram feridas devido à explosão de um caminhão-bomba em um posto de checagem de segurança na Somália, no sábado (23). Segundo o governo, 17 pessoas em estado grave foram levadas a hospitais de Mogadíscio. As informações são do site The Defense Post.

O governo somali divulgou no domingo (24) o último boletim sobre a vítimas, relatando 21 mortos e 52 feridos. O ataque ocorreu na cidade de Beledweyne, e a explosão chegou a destruir parcialmente imóveis da área atingida.

“O número de mortos na explosão de ontem aumentou hoje de 13 para 21 pessoas, depois que mais cadáveres foram recuperados sob os escombros dos edifícios destruídos, alguns queimados de forma irreconhecível”, disse Ahmed Yare Adan, um policial local, no domingo.

Explosão de caminhão-bomba em Beledweyne, na Somália, setembro de 2023 (Foto: reproduçãode vídeo)

O agente de segurança acrescentou que muitas pessoas continuam em busca de “desaparecidos das suas famílias, não sabendo se estão vivos ou mortos.”

De acordo com Sayid Ali , vice-comandante da delegacia de polícia local, o ataque ocorreu em um bairro bastante movimentado, onde há edifícios residenciais e comerciais. Ele disse ainda que as buscas por sobreviventes nos escombros prosseguem, e o temor do governo é o de que o número de vítimas venha a aumentar.

Embora nenhum grupo tenha reivindicado a autoria do ataque até o domingo, todos os indícios apontam para o Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda que é o mais atuante na Somália.

Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques contra órgãos e oficiais do governo e entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Civis são frequentemente vitimados pelos atentados. Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de civis atingidos pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Em agosto de 2023, o chefe de Estado afirmou que o objetivo é derrotar completamente o grupo até o início do próximo ano. “Queremos eliminar o Al-Shabaab do país nos próximos cinco meses”, disse Mohamud durante reunião de governo. “Se não os eliminarmos completamente, talvez haja alguns bolsões com alguns Al-Shabaabs inofensivos que não poderão causar problemas.”

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

Tags: