Explosões simultâneas de dois carros-bomba matam ao menos nove na Somália

Ataque foi atribuído ao Al-Shabaab e ocorreu na região de Hiran, onde uma grande ofensiva foi lançada no ano passado contra o grupo

Ao menos nove pessoas, todas civis, morreram em virtude de explosões simultâneas de dois carros-bomba em uma cidade da região central da Somália, nesta quarta-feira (4). As informações são do site The Defense Post.

De acordo com testemunhas, o ataque ocorreu perto de um edifício da administração pública distrital, que possivelmente era o alvo das bombas. Entretanto, a explosão acabou atingindo um restaurante que fica nas proximidades.

“Os terroristas atacaram a cidade de Mahas nesta manhã, usando veículos carregados com explosivos”, disse Abdullahi Adan, um agente de segurança local. “Eles atacaram uma área civil, e confirmamos que nove pessoas, todas civis, morreram nas duas explosões”.

O governo alega que o ataque foi realizado pelo Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda que vem sendo alvo de uma grande operação de contraterrorismo por parte do governo central.

“Os terroristas, depois de terem sido derrotados, recorreram a civis desesperadamente, mas isso não vai impedir a vontade do povo de continuar a derrotá-los”, disse Osman Nur, comandante da polícia em Mahas. “Eles mataram civis inocentes nas explosões”.

Soldados da ONU em treinamento para combater o Al-Shabaab, em agosto de 2012 (Foto: Stuart Price/UA)

Um levantamento feito pela ONU (Organização das Nações Unidas) e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) aponta ainda casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”.

As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021 e o maior número registrado no país desde 2017.

A ONU também acusa o Al-Shabaab de destruir poços usados pela população para buscar água e de envenenar alguns deles na região de Hiraan, justamente em um momento em que os somalis enfrentam dificuldades extremas devido à seca generalizada em muitas partes do país.

Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da UA. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um relatório do International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional, em tradução literal), cuja meta é prevenir guerras em todo o mundo, diz que derrotar o Al-Shabaab é uma tarefa complexa devido à quantidade de seguidores em território somali, algo na casa dos cinco mil. Assim, a melhor estratégia para o governo somali seria a negociação

“Combinada com a disfunção e a divisão entre seus adversários, a agilidade dos militantes permitiu que se inserissem na sociedade somali”, diz o documento. “Há um crescente consenso nacional e internacional de que o Al-Shabaab não pode ser derrotado apenas por meios militares”.

O relatório, porém, afirma que a diplomacia não vem sendo considerada pelo governo. “Há pouco apetite entre as elites somalis ou os parceiros internacionais do país para explorar alternativas, principalmente conversas com líderes militantes”. E acrescenta: “A alternativa é mais luta sem um fim à vista”.

O presidente Hassan Sheikh Mohamud deixa claro que a diplomacia de fato não está nos planos, tendo iniciado uma grande ofensiva contra os insurgentes em setembro. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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