Explosões suicidas atribuídas a mulheres matam ao menos 18 pessoas na Nigéria

Em um dos ataques, a autora teria sacrificado o próprio bebê ao acionar um dispositivo explosivo que levava junto ao corpo

Ao menos 18 pessoas morreram em uma série de explosões suicidas ocorridas no estado de Borno, nordeste da Nigéria, no sábado (29). As autoridades locais dizem que os ataques foram realizados por mulheres que levavam bombas junto ao corpo, sendo que uma delas teria sacrificado o próprio bebê, conforme relatos da rede Deutsche Welle (DW).

Ao menos três ataques foram realizados, todos nas proximidades da fronteira com Camarões. Um dos alvos foi um casamento na cidade de Gwoza, onde uma mulher com um bebê nas costas acionou um dispositivo explosivo. O segundo alvo foi um hospital, e o terceiro foi o funeral das vítimas da primeira explosão, realizado no mesmo dia.

“Até agora, 18 mortes envolvendo crianças, homens, mulheres e mulheres grávidas. O grau de ferimentos varia de rupturas abdominais, fraturas de crânio e fraturas de membros”, disse no domingo (30) Barkindo Saidu, chefe da Agência de Gestão de Emergências do Estado de Borno (SEMA, na sigla em inglês).

Agentes de polícia da Nigéria (Foto: x.com/PoliceNG)

Embora nenhum grupo tenha assumido a autoria dos ataques até a manhã desta segunda-feira (1º), a Anistia Internacional Nigéria alegou que a ação foi coordenada pelo Boko Haram, grupo extremista ligado à Al-Qaeda que protagoniza uma insurgência de 15 anos, período no qual mais de 40 mil pessoas morreram e dois milhões foram deslocadas na área, segundo dados da rede BBC.

“Os ataques coordenados do Boko Haram, que mataram pelo menos 18 pessoas e feriram dezenas, em dois locais no estado de Borno, no sábado, são cruéis, ilegais e demonstram desprezível desrespeito pela vida humana”, disse a Anistia através da rede social X. “O Boko Haram deve pôr fim à sua campanha de assassinatos cruéis e ilegais de civis. Estes ataques deploráveis, ocorridos numa altura em que as pessoas estavam de luto, demonstram um total desrespeito pela vida humana.”

A violência gerou manifestações de repúdio também de governos, inclusive o da Nigéria, que prometeu vencer a luta contra o extremismo. Em comunicado, o presidente Bola Tinubu chamou os ataques de “atos desesperados de terror” e afirmou que “os promotores da violência gratuita terão um encontro certo com a justiça.” Acrescentou: “Esses ataques covardes são apenas um episódio isolado, pois o governo não permitirá que a nação mergulhe em uma era de medo, lágrimas, tristeza e sangue.”

Quem também se manifestou foi a missão dos EUA na Nigéria. “Esses atos repreensíveis de violência demonstram um desrespeito cruel e implacável pela vida humana. Esses ataques abomináveis ​​são um lembrete gritante da ameaça contínua representada pelo terrorismo na região”, diz comunicado citado pela BBC.

Por que isso importa?

Os terroristas do Boko Haram lutam para criar um califado islâmico no nordeste da Nigéria. A ação já se espalhou para países vizinhos como Camarões, Chade, Níger e Benin, com assassinatos regulares, queima de mesquitas, igrejas, mercados e escolas e ataques a instalações militares.

Ultimamente, porém, o grupo passou a colecionar derrotas. Em junho de 2021, militantes do Boko Haram gravaram um vídeo no qual confirmaram a morte de Abubakar Shekau, seu notório ex-comandante.

Shekau morreu no dia 19 de maio daquele ano, em um confronto com jihadistas do rival Estado Islâmico da Província do Oeste da África (ISWAP) na floresta de Sambisa. “Shekau detonou uma bomba e se matou”, disse um militar nigeriano à época, em áudio ouvido pelo Wall Street Journal.

Formado por dissidentes do Boko Haram, o ISWAP se afastou de Shekau em 2016 e passou a se concentrar em alvos militares e ataques de alto perfil, inclusive trabalhadores humanitários. Depois da morte de Shekau, informações sugerem que houve uma aproximação entre os dois grupos, algo jamais confirmado oficialmente.

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