O grupo armado M23 (Movimento 23 de Março), que protagoniza uma violenta insurgência na República Democrática do Congo, vem sendo apoiado pelo governo de Uganda. Essa constatação aparece em um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) ao qual a agência Reuters teve acesso nesta segunda-feira (8)
Em documento anterior, divulgado em dezembro de 2022, a ONU já havia acusado o grupo de realizar sequestros, estupros, tortura e assassinatos de dezenas de civis, em meio a uma onda de violência que envolve também militares e milícias étnicas.
O M23 surgiu como uma milícia formada por tutsis da RD Congo, e em fevereiro de 2023 a ONG Human Rights Watch (HRW) afirmou que a organização tem apoio também de Ruanda.

O grupo chegou a assinar um acordo de paz com o governo congolês e acabou incorporada ao exército nacional em 2009, mas se rebelou novamente em 2021 e retomou os confrontos com as Forças Armadas, a ponto de o Conselho de Segurança da ONU afirmar que a milícia é uma “séria ameaça à paz, segurança e estabilidade na região”.
O M23 é suspeito, inclusive, de envolvimento na queda de um helicóptero que matou oito integrantes da Monusco, a missão de paz da ONU na RD Congo, no dia 28 de março de 2022. A aeronave transportava seis boinas-azuis do Paquistão, um da Rússia e outro da Sérvia e desapareceu enquanto fazia uma missão de reconhecimento perto da fronteira com Uganda e Ruanda.
O interesse dos governos estrangeiros na atuação da milícia estaria ligado à exploração de ricas jazidas de mineiras congolesas, segundo o mais recente relatório, uma acusação sempre refutada por Ruanda e Uganda. Ambos chegaram a invadir o território da RD Congo entre 1996 e 1998 sob o argumento de enfrentar facções armadas locais.
“Desde o ressurgimento da crise do M23, Uganda não impediu a presença de tropas do M23 e das Forças de Defesa de Ruanda (RDF) em seu território ou sua passagem por ele”, diz o documento redigido por um grupo de peritos do Conselho de Segurança. Os rebeldes teriam suporte inclusive da inteligência militar ugandeses, enviando representantes ao país em mais de uma oportunidade.
O relatório alega, ainda, que entre três mil e quatro mil soldados de Ruanda lutaram ao lado dos rebeldes contra os militares da RD Congo, concluindo que o “controle e direção de fato do exército ruandês sobre as operações do M23 também torna Ruanda responsável pelas ações do M23.”
Uganda respondeu à denúncia com nova negativa, alegando que “seria loucura” desestabilizar uma região que tanto luta para pacificar. “Estamos sacrificando tudo para mantê-la estável”, afirmou o porta-voz adjunto das Forças Armadas de Uganda, Deo Akiiki.