Investigação aponta desaparecimento forçado de tigrés na capital da Etiópia

Forças de segurança são acusadas de detenções arbitrárias, desaparecimento forçado e outros abusos contra cidadãos de Tigré

Uma investigação realizada pela ONG Human Rights Watch (HRW) aponta que cidadãos da região de Tigré, na Etiópia, são vítimas de detenções arbitrárias, desaparecimento forçado e outros abusos por parte do governo local. O relatório, publicado pela entidade na quarta-feira (18), indica que mais de cem pessoas têm paradeiro desconhecido e podem ter sido vítimas das forças de segurança nacionais.

“As forças de segurança da Etiópia, nas últimas semanas, realizaram prisões arbitrárias desenfreadas e desaparecimentos forçados de tigrés em Addis Abeba”, disse Laetitia Bader, diretora da HRW no Chifre da África. “O governo deve interromper imediatamente o seu perfil étnico, que lançou suspeitas injustificadas sobre os tigrés, e fornecer informações sobre todos os detidos, bem como reparação às vítimas”.

Crianças em igreja na região de Tigré, Etiópia (Foto: Unicef/Zerihun Sewunet)

Durante a investigação, a ONG ouviu familiares, amigos e advogados de 23 pessoas detidas pelas autoridades que hoje estão desaparecidas. Um dos advogados forneceu, ainda, uma lista com os nomes de mais 110 tigrés cujos parentes alegam não saber onde estão.

O conflito entre rebeldes e forças de segurança em Tigré levou ao deslocamento de milhares de pessoas, com o consequente aumento no número de casos de abusos dos direitos humanos contra tigrés na capital nacional Adis Abeba.

Em julho, o comissário da polícia de Addis Abeba, Getu Argaw, informou que mais de 300 tigrés foram presos, sob suspeita de serem filiados à TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), partido político com um braço armado que o governo considera um grupo terrorista. Embora o governo afirme que os cidadãos inocentes de Tigré não são alvo da polícia, a investigação da HRW sugere que a maioria das detenções, senão todas, têm como base somente a etnia.

Por que isso importa?

Tigré está imersa em conflitos desde novembro, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. A disputa opõe a TPLF, partido político com um braço armado, às forças de segurança nacionais da Etiópia, amparadas pelo exército da vizinha Eritreia.

Os militares chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle, a capital regional.

Pouco após a derrota do exército, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército da Eitreia, que apoia Addis Abeba, também deixaram de ser vistos por lá. Agora, com o avanço dos rebeldes, que já conquistaram as províncias vizinhas de Afar e Amhara, o exército tem sido enviado novamente para apoiar as tropas locais.

Em meio à disputa entre rebeldes e governo, a região enfrenta uma campanha que gera fome e violência e já deteriorou as condições de vida de cinco milhões de civis.

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