Jornalista desaparecido há uma semana é encontrado morto nos Camarões

Corpo mutilado de Martinez Zogo, que denunciava escândalos envolvendo políticos e outros figurões, foi encontrado perto da capital Yaoundé

Um popular jornalista camaronês que estava desaparecido desde a terça-feira passada (17) foi encontrado morto perto da capital, Yaoundé, informou a polícia local no domingo (22). O sumiço de Martinez Zogo foi denunciado como um sequestro pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF). As informações são da rede francesa RFI.

O corpo foi encontrado mutilado a 15 quilômetros da capital, sendo reconhecido pela companheira do jornalista. Zogo, de 51 anos, era diretor da estação de rádio privada Amplitude FM, com sede em Yaoundé.

Na emissora, ele também era apresentador de um conhecido programa diário, chamado Embouteillage (“Engarrafamento”, em tradução literal), que abordava casos de corrupção no país frequentemente mencionando nomes de autoridades e outros figurões envolvidos, o que já havia rendido ao comunicador uma prisão por difamação há três anos.

Martinez Zogo era uma pedra no sapato do governo com suas denúncias (Foto: Twitter/reprodução)

Recentemente, ele havia feito comentários no ar sobre um caso de suposto desvios de fundos públicos envolvendo um meio de comunicação com conexões com o governo, disse a RSF.

“A mídia camaronesa acaba de perder um de seus membros, vítima do ódio e da barbárie”, disse o Sindicato Nacional dos Jornalistas camaroneses em um comunicado repercutido pela rede Africa News. “Onde está a liberdade de imprensa, liberdade de opinião e liberdade de expressão em Camarões quando trabalhar na mídia agora envolve um risco mortal?”.

O crime é tido como um suposto assassinato a mando do governo. No domingo, vários canais de televisão camaroneses dedicaram seus programas à morte de Zogo.

“As autoridades devem iniciar uma investigação rigorosa, minuciosa e independente para estabelecer toda a cadeia de responsabilidade e as circunstâncias que levaram a este triste acontecimento”, disse Sadibou Marong, chefe do escritório da RSF na África subsaariana.

O incidente é o mais recente de uma série de ataques contra jornalistas em Camarões, que é governado pelo ditador Paul Biya, político de vasto histórico de repressão à oposição.

Grupos oposicionistas se manifestaram com indignação, com o parlamentar da Frente Social-Democrática (SDF, na sigla em inglês) Jean-Michel Nintcheu denunciando um “crime que não pode ficar impune”.

De acordo com o mais recente Índice Global de Liberdade de Imprensa, organizado pela RSF e divulgado em maio de 2022, Camarões ocupa a 118ª posição de um total de 180 países de todo o mundo, não muito distante do Brasil, que está no 110º lugar. No fundo da tabela estão China (175º), Turcomenistão (177º), Irã (178º), Eritreia (179º) e Coreia do Norte (180º).  

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