Projeto de mineradora chinesa expulsa moradores de suas terras no Zimbábue

Projeto envolve área de 12 mil hectares que já começou a ser ocupada, e muitas famílias aguardam uma decisão sobre seu futuro

As obras de um projeto de mineração de ferro por uma empresa da China ameaçam a moradia de centenas de pessoas na cidade de Chivhu, no Zimbábue. O projeto engloba uma área de 12 mil hectares, que já começou a ser ocupada pelos chineses. Enquanto isso, muitas famílias que vivem na região aguardam uma decisão sobre seu futuro, segundo o jornal Newsday Weekender.

Muitos moradores ainda não sabem quando deixarão suas casas e para onde serão levados. Outros já perderam suas suas terras agrícolas diante da rápida expansão do projeto chinês.

“Esperávamos que o governo se engajasse e nos desse informações completas sobre todo o projeto”, disse James Munemo, um dos moradores afetados. “Achávamos que eles viriam com uma posição clara sobre a natureza do projeto. Esperávamos que as autoridades divulgassem os nomes das pessoas que seriam afetadas pelo projeto em tempo hábil para que não sejamos surpreendidos com despejos”.

Implementação da usina de aço tem andado a passos largos (Foto: Chinese Embassy in Zimbabwe/Reprodução Twitter)

O presidente do Conselho do Distrito Rural de Chikomba, Israel Dhikinya, confirmou que os moradores serão deslocados, mas não divulgou mais detalhes. Segundo ele, a justificativa da autoridade local ao abraçar o projeto chinês é de que a obra traria emprego à cidade e “uma grande reformulação por meio do desenvolvimento de infraestrutura”.

O presidente da Aliança de Residentes e Contribuintes de Chivhu, Collen Zvarevashe, observa que o governo tem obrigação de manter os residentes a par do andamento do projeto. “Se o desenvolvimento é para nós, deve nos incluir. O governo deve ser transparente nos assuntos públicos. Em vez de dar as boas-vindas ao projeto, os moradores o estão evitando”.

Já o vice-ministro do Desenvolvimento de Minas e Mineração, Polite Kambamura, disse no Parlamento recentemente que a empresa chinesa ainda não determinou o número real de moradores a serem realocados.

Por trás do projeto está o ex-embaixador do país africano em Beijing e membro do partido Zanu-PF (União Nacional Africana do Zimbábue) Chris Mutsvangwa. “Onde eu tenho interesse, eu declaro. Como no caso deste gigantesco empreendimento de mineração”, disse ele.

Outros casos no país

Moradores em outras partes do Zimbábue enfrentam situação parecida. Na cidade de Mutoko, província de Mashonaland Oriental, os moradores correm o risco de perder suas casas devido aos planos de uma mineradora chinesa de iniciar a exploração de granito negro.

Se confirmado, o projeto de exploração de uma área de 168 hectares levará ao despejo das residências de cerca de 1,5 mil famílias locais. Grupos de moradores entraram em rota de colisão com a Shanghai Haoying Mining Investments na tentativa de amenizarem os danos ao meio-ambiente e à população.

Influência chinesa

Como muitas nações africanas, o Zimbábue também está envolto pela influência chinesa, como aponta artigo do jornal digital New Zimbabwe.

“É do conhecimento comum que os proprietários de empresas chinesas não prestam qualquer atenção à lei do Zimbábue e aos direitos legais dos cidadãos. Em vez disso, os discriminam em relação aos mineiros chineses, pagando-lhes baixos salários de apenas US$ 35 por mês [cerca de R$ 184]”, apontou o texto.

Com o tempo, os sentimentos anti-chineses no Zimbábue têm crescido continuamente, à medida que as pessoas começam a perceber que estão sendo oprimidas para servir aos interesses da China. Líder tradicional na província central de Mashonaland do Zimbábue, Chief Chiweshe acusou os cidadãos chineses de saquearem vastos recursos minerais como cromo e ouro e até mesmo destacou o papel abusivo e prejudicial desempenhado pela China na luta de libertação por um Zimbábue independente.

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