ONU: Acnur alerta para crise de deslocados após insurgência de Cabo Delgado

Cerca de 700 mil já deixaram região por medo de ataques violentos, em crise que ainda não ensejou devida atenção global

Este conteúdo foi publicado originalmente no portal ONU News, da Organização das Nações Unidas

O número de deslocados já passa dos 670 mil pessoas em Cabo Delgado, no nordeste de Moçambique, em meio a crescente violência. A crise, porém, ainda não conseguiu atrair a atenção do mundo.

Para destacar a situação, a alta comissária assistente para Proteção da Acnur (Agência da ONU para Refugiados), Gillian Triggs, e o alta comissário assistente para Operações, Raouf Mazou, visitaram a região na semana passada.

Em nota, a agência afirma que a maioria das pessoas busca abrigo na comunidade local e centros urbanos, enquanto outros foram realocados em assentamentos improvisados, onde estão privados de serviços básicos. 

ONU: Acnur alerta para crise de deslocados após insurgência de Cabo Delgado
Grupo de deslocados de Cabo Delgado aguardam acomodações da Unicef em abrigo na cidade de Beira, Moçambique, em janeiro de 2021 (Foto: Unicef/Ricardo Franco)

Gillian Triggs e Raouf Mazou estiveram em Ancuabe, que hospeda 951 famílias. No assentamento, as famílias enfrentam dificuldades para retomar a sua vida normal. 

Para os assistentes do Acnur, a crise humanitária e de proteção é grave. A necessidade de abrigo adequado e resistente é uma prioridade, uma vez que às chuvas fortes se fazem sentir na província.

Gillian Triggs disse que a situação de Cabo Delgado é uma verdadeira tragédia humanitária, o que obriga o reforço das necessidades de proteção para mulheres, crianças e homens. 

Já Raouf Mazou afirmou que o deslocamento de pessoas “pode não parar tão cedo”. Ele elogiou as comunidades anfitriãs pelo gesto de acolhimento a milhares de famílias deslocadas.

O Acnur trabalha em coordenação com o governo e outras organizações internacionais e parceiros para prestar ajuda aos deslocados internos. Dados da agência indicam que mais de 2 mil pessoas foram mortas desde o início dos ataques, em 2017. Existem relatos generalizados de abusos de direitos humanos e desrespeito ao Direito Internacional Humanitário. 

Vítimas

Herculano de 64 anos, é uma das vítimas desta crise. Ele deixou tudo para trás, fugindo da sua aldeia no distrito de Quissanga com sua família, incluindo dez filhos e oito netos.

Em entrevista ao Acnur, Herculano contou que trabalhava na roça e não tinha problemas em alimentar sua família. Ele tinha uma oficina de carpintaria e também criava gado, como cabras, galinhas e patos. Agora, porém, a situação é difícil, porque não consegue “ganhar nem um centavo”.

Além dos ataques, a região está a recuperar-se dos recentes choques climáticos, incluindo ciclones, inundações e surtos recorrentes de doenças transmitidas pela água.

O Acnur tem prestado assistência humanitária de emergência, distribuindo materiais para abrigos, itens básicos de socorro, como lonas, colchões, cobertores, conjuntos de cozinha, baldes e lâmpadas solares. Até ao momento, apenas 39% do apelo do Acnur para Cabo Delgado foi financiado.

No Brasil

Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino. Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos. Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

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