Premiê do Níger diz que ‘ameaça’ e ‘desrespeito’ o levaram a expulsar militares dos EUA

De acordo com Ali Zeine, Washington exigiu o fim do diálogo do país africano com Rússia e Irã para que a parceria se sustentasse

O governo norte-americano se prepara para retirar suas tropas do Níger, que até então os EUA enxergavam como uma posição estratégica para o combate ao terrorismo na África. Em entrevista ao jornal The Washington Post, o primeiro-ministro nigerino, Ali Mahaman Lamine Zeine, afirmou que tomou a decisão radical porque se sentiu “desrespeitado e “ameaçado” pelo antigo parceiro.

Os governos dos dois países começaram a se distanciar quando a junta militar assumiu o poder na nação africana, ato que Washington reconheceu em outubro do ano passado como um golpe de Estado. Desde então, o apoio militar norte-americano vinha sendo reduzido, mas tropas foram mantidas no país devido à importância estratégica que ele ocupa no Sahel.

Zeine, nomeado pelos militares para comandar o país, afirmou ao periódico que a situação se tornou insustentável em março, após uma reunião que se desenrolou de forma tensa entre ele e Molly Phee, principal autoridade do Departamento de Estado norte-americano para assuntos africanos.

O primeiro-ministro do Níger, Ali Mahaman Lamine Zeine (Foto: arquivo pessoal/X)

De acordo com o premiê, durante o encontro, a representante de Washington contestou a aproximação entre o governo militar nigerino e a Rússia, determinou que o diálogo entre a nação africana e o Irã fosse interrompido e que o acordo de segurança entre Níger e EUA seria cancelado se ele não acatasse tais determinações.

“Quando ela terminou, eu disse: ‘Senhora, vou resumir em dois pontos o que a senhora disse’”, contou Zeine ao jornal. “’Primeiro, você veio aqui para nos ameaçar em nosso país. Isso é inaceitável. E você veio aqui para nos dizer com quem podemos nos relacionar, o que também é inaceitável. E você fez tudo isso com um tom condescendente e falta de respeito’.”

Na conversa, Phee ainda teria ameaçado sancionar o país africano caso mantivesse negociações para fornecer urânio ao Irã, material que pode vir a ser usado pela República Islâmica para a produção de armas nucleares.

O governo norte-americano confirmou as demandas apresentadas por sua representante, mas afirmou deu ao primeiro-ministro “uma escolha, não um ultimato.” E que a parceria só poderia se sustentar se o Níger aceitasse “respeitar os nossos valores democráticos e os interesses de segurança nacional.”

Terrorismo fortalecido

Washington confirmou que acatará a ordem do Níger e que “nos próximos meses” atuará para a retirada das tropas, que podem eventualmente ser reposicionadas em outro local. Apesar da concordância, admitiu que isso criará problemas para o combate ao terrorismo no continente africano

O Níger é considerado um ponto estrategicamente importante. A Base Aérea 101, onde as tropas estão estacionadas, garante aos soldados uma posição segura para operar no continente, com acesso a países onde a ação extremista é mais intensa, como os vizinhos Mali e Burkina Faso.

Zeine, por sua vez, diz que a parceria com os EUA não vinham sendo benéficas ao Níger. Os militares que assumiram o comando do país afirmam que Washington se recusou a enviar equipamento militar solicitado, conforme prevê o acordo de segurança, mas ainda assim mantiveram seus soldados no país.

“Os americanos permaneceram em nosso solo sem fazer nada, enquanto os terroristas matavam pessoas e incendiavam cidades”, disse o primeiro-ministro. “Não é um sinal de amizade vir ao nosso solo, mas deixar que os terroristas nos ataquem.”

Vitória de Moscou

Por enquanto, as Forças Armadas dos EUA mantêm seus militares no Níger. No entanto, a agência Reuters revelou que ele precisam dividir temporariamente a base aérea em que estão com soldados russos, que possivelmente chegaram ao país para assumir o papel dos norte-americanos no setor de segurança.

De acordo com o jornal The Moscow Times, o secretário de Defesa Lloyd Austin minimizou a situação. “Os russos estão num complexo separado e não têm acesso às forças dos EUA ou ao nosso equipamento”, disse ele. “Neste momento, não vejo aqui um problema significativo em termos de proteção da nossa força.”

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