Legislador iraniano sugere que país já tem armas nucleares, mas prefere manter o segredo

Ahmad Ardestani diz que Teerã não pode ficar atrás de EUA e Israel, por isso teria construído armas de destruição em massa

Em dezembro do ano passado, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) afirmou que o Irã havia voltado a enriquecer urânio e que, se quisesse, poderia construir ao menos três bombas nucleares. Até hoje não há qualquer prova de que o país tenha efetivamente feito isso, mas um legislador local sugeriu na sexta-feira (10) que tal hipótese não pode ser descarta. Segundo ele, é possível que Teerã tenha de fato um arma de destruição em massa em seu arsenal, mas mantenha a questão em segredo.

“Na minha opinião, conseguimos armas nucleares, mas não o anunciamos”, disse Ahmad Bakhshayesh Ardestani à rede iraniana Rouydad 24. “Significa que a nossa política é possuir bombas nucleares, mas a nossa política declarada está atualmente no âmbito do JCPOA (Plano de Ação Conjunto Global, da sigla em inglês). A razão é que, quando os países querem confrontar outros, suas capacidades devem ser compatíveis, e a compatibilidade do Irã com os EUA e Israel significa que o Irã deve ter armas nucleares.”

Teste nuclear dos EUA em 1952, a primeira bomba de hidrogênio bem-sucedida do mundo (Foto: Flickr)

A manifestação de Ardestani se segue a uma declaração de Kamal Kharrazi, conselheiro sênior de política externa do líder iraniano Ali Khamenei. Na quinta-feira (9), ele afirmou que Teerã deveria mudar sua doutrina nuclear caso Israel atacasse suas instalações atômicas.

“Se eles se atreverem a atacar as instalações nucleares do Irão, o nosso nível de dissuasão mudará. Até agora, experimentamos dissuasão no nível convencional. Se pretendem atacar as capacidades nucleares do Irão, naturalmente, isso poderá levar a uma mudança na doutrina nuclear do Irão”, declarou Kharrazi, segundo o site Iran International.

De acordo com a AIEA, uma agência da ONU (Organização das Nações Unidas), Teerã há tempos conseguiu atingir o nível de pureza de 60% do urânio, próximo de atingir os 90% necessários para ser usado em armamento nuclear.

Mais recentemente, a agência disseque o Irã “aumentou a sua produção de urânio altamente enriquecido, revertendo uma redução anterior de produção registada em meados de 2023.” E estimou que a produção seja de nove quilos por mês, sendo necessários cerca de 42 quilos para uma arma nuclear.

Em março do ano passado, general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas norte-americanas, também manifestou preocupação com a questão, dizendo que o Irã “poderia produzir material de fissão para uma arma nuclear em menos de duas semanas e levaria apenas mais alguns meses para produzir uma arma nuclear real.”

Suspeita antiga

Desde 2021 têm se acumulado indícios de que o Irã vem aumentando seu estoque de material atômico. Em dezembro de 2022, a AIEA disse que o país planejava instalar novas centrífugas em uma usina de enriquecimento de combustível, visando à produção de mais urânio enriquecido a 60%.

Na ocasião, a subsecretária-geral da ONU (Organização das Nações Unidas) para assuntos políticos, Rosemary DiCarlo, estimou que o país tenha agora um estoque total de urânio enriquecido de mais de 18 vezes a quantidade permitida pelo JCPOA, o acordo nuclear assinado em 2015.

Mais tarde, em janeiro de 2023, Rafael Grossi, chefe da AIEA, declarou que o Irã tem material suficiente para construir “várias armas nucleares” e  instou as nações ocidentais a adotarem um plano emergencial para compensar o fim do acordo nuclear, do qual os EUA se retiraram em 2018, sob o governo de Donaldo Trump.

União Europeia (UE) chegou a intermediar negociações entre Washington e Teerã para restabelecer o acordo. As conversas, porém, foram abandonadas em meio aos protestos populares que tomaram as ruas iranianas desde setembro de 2022, após a morte da jovem Mahsa Amini sob custódia da “polícia da moralidade”.

Por sua vez, Teerã alega que seu programa nuclear é usado para fins puramente pacíficos. No entanto, é o único país sem armas nucleares que produz urânio altamente enriquecido a 60%. O urânio para armas é aquele com pureza de 90%.

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