Estados Unidos reconhecem como golpe de Estado a tomada de poder no Níger

Niamei, agora sob regime militar, é um parceiro estratégico de Washington no combate ao extremismo islâmico no continente africano

A tomada de poder pelos militares no Níger foi oficialmente reconhecida como um golpe de Estado pelo governo norte-americano. A decisão cria um problema para Washington, que a partir de agora limitará o apoio militar a um parceiro estratégico na luta contra o extremismo islâmico na África. As informações são da rede Voice of America (VOA).

“Estamos tomando esta medida porque nos últimos dois meses esgotamos todos os meios disponíveis para preservar a ordem constitucional no Níger”, disse um alto funcionário do governo Biden na terça-feira (10).

Segundo a fonte, cujo nome não foi revelado, os Estados Unidos tentaram negociar com os militares o restabelecimento da ordem democrática em um prazo de até 120 dias, como determina a Constituição nigerina.

“Na verdade, eles nos disseram que optaram por revogar essa Constituição e estão agora no processo de criação de um novo projeto, com um calendário incerto”, afirmou o funcionário estatal norte-americano.

Embora as tropas dos Estados Unidos tenham sido autorizadas a permanecer no Níger como parte da parceria entre os países, as missões conjuntas entre as forças armadas estão suspensas. Também não houve mudança na relação diplomática entre as nações, ao menos por ora.

General Abdourahamane Tchiani (Foto: Office of Radio and Television of Niger/captura de tela)

As únicas operações que serão mantidas pelo Pentágono no Níger são as de inteligência, reconhecimento e vigilância, cujo objetivo é “monitorar ameaças às nossas forças, incluindo ameaças de organizações extremistas violentas”, de acordo com a fonte.

Tal decisão se deve ao temor de que o fim dessas operações permitiria o fortalecimento de organizações extremistas islâmicas que atuam no Níger e em países vizinhos, sobretudo Burkina Faso e Mali, que são igualmente governados atualmente por juntas militares.

O Níger vinha servindo como quartel general das operações de contraterrorismo na África Ocidental, e Washington inclusive investiu milhões de dólares em uma base que funciona desde 2019 na cidade de Agadez, a maior do norte do país africano. Após o golpe, as tropas da França já haviam sido obrigadas a deixar o país.

O ex-militar Bill Roggio, hoje editor do site Long War Journal, focado na cobertura do extremismo global, destacou a importância do Níger na luta antiterrorismo. Segundo ele, Washington “mal consegue controlar o problema. Quando você remove isso, quando remove todos os facilitadores que ajudam a impedir que esses jihadistas invadam países ou regiões, então você está lhes dando uma vantagem.”

Por que isso importa?

Em 26 de julho, o Níger foi palco de um golpe de Estado, no qual o general Abdourahamane Tchiani, alegando “deterioração da situação de segurança” no país devastado pela ação de grupos jihadistas, se autodeclarou líder nacional dois dias depois após destituir o presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum. 

A ascensão ao poder de Bazoum, eleito no final de fevereiro de 2021, marcou uma transferência pacífica de poder histórica no Níger desde sua independência da França em 1960. Ele agora encontra-se sob custódia da guarda presidencial no palácio da presidência e pode ser julgado sob a acusação de “alta traição”.

O político é reconhecido como um aliado fundamental nos esforços ocidentais para combater a insurgência islâmica na região do Sahel, e Niamei é um dos principais beneficiários da ajuda externa.

Apesar dos apelos de diversos países e blocos regionais, clamando pela reinstauração do presidente deposto, Tchiani rejeitou tais chamados, argumentando que configuram “interferência nos assuntos internos do país”.

Um dos países mais pobres do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), o Níger luta contra o alastramento do Boko Haram, ligado à Al-Qaeda, e do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), ambos da Nigéria, que já expandiram sua atuação para a nação vizinha.

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