RD Congo diz que boinas azuis da ONU mataram oito civis no leste do país

Incidente teria ocorrido quando soldados da missão de paz das Nações Unidas reagiram a um ataque a um comboio de suprimentos

O governo da República Democrática do Congo atribui à missão de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) no país, Monusco, as mortes acidentais de oito civis durante um ataque a um comboio de suprimentos na porção leste da nação africana. As informações são do site The Defense Post.

O comboio das Nações Unidas retornava de uma missão de reabastecimento em Goma, a capital da província de Kivu do Norte, quando teria sido atacado. Quatro caminhões foram incendiados, de acordo com a própria Monusco.

Soldados de paz da Missão de Paz das Nações Unidas na República Democrática do Congo, Monusco (Foto: UN Photo/Monusco)

Entretanto, uma autoridade militar provincial afirma que o ataque ao comboio levou os soldados de paz a reagir com tiros de advertência, levando à morte de civis inocentes. O episódio ocorreu na vila de Kanyaruchinya, onde vive um grande número de deslocados.

“Os soldados da Monusco encarregados da segurança dispararam tiros de advertência, que infelizmente causaram a morte de oito dos nossos compatriotas entre os deslocados, além de 28 feridos”, disse o porta-voz do governador, tenente-general Constant Ndima.

A missão de paz não respondeu aos pedidos de comentários da reportagem, mas já havia admitido que houve mortes no episódio. Porem, fala em três vítimas fatais, atingidas quando os soldados de paz e membros do exército da RD Congo “tentavam proteger o comboio”.

No último domingo (5), um militar sul-africano integrante da Monusco morreu quando o helicóptero em que ele viajava foi atacado por rebeldes e Kivu do Norte. A aeronave se dirigia a Goma quando foi alvejada. Além do soldado de paz morto, um companheiro dele ficou ferido, mas ainda assim conseguiu conduzir o helicóptero até o destino final, onde recebeu atendimento.

A ONU e o M23

A Monusco está na RD Congo desde 1999 e conta com cerca de 16 mil soldados de paz. O maior desafio da missão no momento é a violência gerada pelo grupo armado M23 (Movimento 23 de Março), que enfrenta as forças congolesas e supostamente é apoiado pelo governo de Ruanda.

A ONU acusa o grupo rebelde de sequestros, estupros, tortura e assassinatos de civis. Diz ainda que o M23 cobra impostos de moradores das áreas que domina, chegando a arrecadar US$ 27 mil por mês ao extorquir comerciantes que precisam se movimentar para vender suas mercadorias.

Números divulgados pelas Nações Unidas indicam que a violência proveniente dos confrontos entre o M23, o exército congolês e vários outros grupos armados forçaram mais de 520 mil pessoas a fugir de suas casas, levando a uma catástrofe humanitária.

A presença dos soldados de paz não é unanimidade entre a população local, com aumento recente dos protestos populares contra a Monusco. Muitos cidadãos congoleses acusam os boinas azuis de não saber lidar com os inúmeros grupos rebeldes armados atuantes no leste da RD Congo.

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