Rebeldes de Tigré são acusados do assassinato de mais de 120 civis na Etiópia

Rebeldes negam os crimes, naquele que seria um dos maiores massacres desde o início da guerra civil no país africano

Autoridades da Etiópia alegam que as forças rebeldes de Tigré assassinaram mais de 120 civis nos últimos dias, em meio a seguidas derrotas militares sofridas nos combates contra as forças de segurança nacionais. Os rebeldes negam os crimes, naquele que seria um dos maiores massacres desde o início da guerra civil, segundo a agência Associated Press.

“O ataque de 4 de setembro foi o mais severo, especialmente no vilarejo de Chenna Teklehaymanot”, disse Sewunet Wubalem, administrador do distrito de Dabat, na região norte da província de Amhara. “Crianças, mães e até anciãos religiosos também foram visados”.

Segundo Wubalem, 123 corpos foram encontrados pelas autoridades, que esperam localizar outros em breve. Ele explicou que o ataque teve início em 27 de agosto, após as forças de segurança nacionais derrotarem um grupo de rebeldes de Tigré que tentavam dominar a cidade de Gondar.

Rebeldes de Tigré são acusados do assassinato de cerca de 120 civis na Etiópia
Milícia armada de Tigré em novembro de 2020: guerra civil na Etiópia já dura dez meses (Foto: TV Tigray)

Troca de acusações

Por um lado, os rebeldes alegam que os combates têm como objetivo forçar o governo a desbloquear rotas de passagem de ajuda humanitária para a região, onde cerca de 400 mil pessoas sofrem com a escassez de alimentos e de outros suprimentos essenciais. As forças de Tigré afirmam que as acusações de assassinato são “fabricadas”, embora inúmeras testemunhas confirmem os fatos relatados pelas autoridades nacionais.

O órgão governamental Comissão Etíope dos Direitos Humanos, por sua vez, reforça a acusação contra os rebeldes, que teriam assassinado os civis durante o processo de retirada de tropas após a derrota militar. “Os civis que não puderam fugir quando a cidade ficou sob o controle das forças (de Tigré) ficaram para trás com a garantia de que nenhum mal lhes aconteceria se fornecerem alimentos (aos rebeldes)”, diz a entidade

Por que isso importa?

A região de Tigré, no extremo norte da Etiópia, está imersa em conflitos desde novembro, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. A disputa opõe a TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), partido político com um braço armado, às forças de segurança nacionais da Etiópia, amparadas pelo exército da vizinha Eritreia.

Os militares chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle, a capital regional.

Pouco após a derrota do exército, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército da Eitreia, que apoia Addis Abeba, também deixaram de ser vistos por lá. Agora, com o avanço dos rebeldes, que já conquistaram as províncias vizinhas de Afar e Amhara, o exército foi enviado novamente para apoiar as tropas locais.

Em meio à disputa entre rebeldes e governo, a região enfrenta uma campanha que gera fome e violência e já deteriorou as condições de vida de cinco milhões de civis.

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