As Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), grupo paramilitar que faz oposição às Forças Armadas (SAF, na sigla em inglês) na guerra civil do Sudão, foram acusadas de mais um massacre de civis. Ativistas afirmam que a facção assassinou cerca de 50 pessoas em uma operação realizada em uma vila no estado de al-Jazira. As informações são do site The Defense Post.
“As aldeias de al-Sariha e Azraq estão sob ataque desde a manhã de sexta-feira (25)”, disse o comitê de resistência em Hasaheisa, grupo voluntário que atua na coordenação de ajuda à população afetada pela guerra civil sudanesa.
A organização afirma que somente em al-Sariha foram registradas ao menos 50 pessoas mortas e mais de 200 feridas, alertando ainda para a total “incapacidade de evacuar os feridos da vila devido aos bombardeios e atiradores”.
Em Azraq, por sua vez, as RSF impuseram um “cerco total”, com os civis “sofrendo as mesmas violações de al-Sariha”, embora nesta aldeia não seja possível relatar número de mortos ou feridos.
Em agosto, a ONG Human Rights Watch (HRW) acusou as duas partes que protagonizam o conflito civil de uma série de atrocidades, entre tortura, execuções sumárias e mutilação de cadáveres. Muitos dos abusos foram registrados em vídeo por seus autores, sinal de que apostam na impunidade.
“As forças das partes beligerantes do Sudão se sentem tão imunes à punição que repetidamente se filmaram executando, torturando e desumanizando detentos, e mutilando corpos”, disse Mohamed Osman, pesquisador do Sudão na HRW. “Esses crimes devem ser investigados como crimes de guerra e os responsáveis, incluindo os comandantes dessas forças, devem ser responsabilizados.”
Segundo os autores do relatório, oito vídeos e um foto mostram quatro episódios de execuções sumárias, enquanto outras quatro filmagens registram cenas de tortura e maus-tratos contra 18 pessoas. Ao menos oito cadáveres são mutilados nas imagens.
Por que isso importa?
O Sudão vive um violento conflito civil que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das SAF, e Mohamed Hamdan “Hemedti” Daglo, à frente da milícia das RSF.
As tensões decorrem de divergências sobre a incorporação dos combatentes das RSF às Forças Armadas, o que levou a milícia a se insurgir. Hemedti tem entre 70 mil e cem mil homens sob seu comando, de acordo com a rede Deutsche Welle (DW), enquanto al-Burhan lidera um efetivo de cerca de 200 mil.
No dia 16 de abril, um domingo, explosões puderam ser ouvidas no centro da capital Cartum, mais precisamente no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.
O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da força aérea sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.
Embora as SAF sejam mais bem equipadas e em maior número, as RSF são igualmente bem treinadas, o que equilibra as ações. O balanço de forças apenas prolonga as hostilidades e a violência decorrente, com nenhum dos dois lados conseguindo se impor sobre o inimigo.
Desde que o conflito se espalhou, primeiro pela capital, depois por outras regiões, cerca de dez milhões de pessoas foram deslocadas dentro do país, com mais de dois milhões forçadas a cruzar as fronteiras para o exterior. A crise maciça deixou 25 milhões de pessoas necessitando de ajuda humanitária e proteção.
A terrível situação é agravada por uma grave escassez de suprimentos essenciais, já que as entregas de produtos comerciais e de ajuda humanitária foram fortemente restringidas pelos combates e pelos desafios de acesso ao território controlado pelas RSF.