Redes sociais na Etiópia são bloqueadas em meio a divisão na Igreja Ortodoxa

Facebook, Telegram e TikTok foram restritos no país, que vive crise devido a um cisão em sua maior representação religiosa

A população etíope está sem acesso a Facebook, TikTok e Telegram. Autoridades locais restringiram o acesso às mídias sociais e plataformas de mensagens na quinta-feira (9) devido às crescentes tensões entre o governo e a Igreja Ortodoxa, que resultaram em protestos no país. A Netblocks, uma organização que monitora o acesso gratuito à internet, confirmou a suspensão dos serviços. As informações são da agência Associated Press (AP).

Isso ocorreu depois que o Santo Sínodo, o órgão máximo da Igreja, desafiou a proibição das autoridades e anunciou que continuaria com as manifestações. A Igreja Ortodoxa, maior representação religiosa do país africano, acusa o governo de “interferir em seus assuntos” e apoiar um grupo dissidente da doutrina, a qual classifica como “ilegal”, na região de Oromia.

Garota etíope usa smartphone: redes sociais bloqueadas (Foto: UNICEF Ethiopia/Flickr)

Por sua vez, o clero separatista acusa a Igreja de manter um sistema de hegemonia linguística e cultural no qual as congregações de Oromia não se reconhecem. Em resumo: a divisão, ocorrida no mês passado, é sobre em quais idiomas os cultos devem ser realizados. Ambos os lados prometeram prosseguir com as manifestações planejadas para ocorrerem no domingo (12) na capital, Adis Abeba. 

A divisão dentro da Igreja Ortodoxa, que norteia a fé da maioria dos mais de 110 milhões de etíopes, ocorreu após os membros da congregação em Oromia declararem um novo sínodo em 22 de janeiro, alegando a necessidade de exercer sua fé nas línguas locais. Vários membros da Igreja que participaram da divisão foram excomungados.

O primeiro-ministro Abiy Ahmed disse que o governo não se envolverá, mas pediu aos membros da Igreja que resolvam suas diferenças. Porém, o premiê, de etnia oromo e protestante, não goza de muito prestígio entre os seguidores da fé ortodoxa, que o acusam de desgastá-la e de ser pró-sínodo separatista.

As autoridades também fecharam escolas nesta sexta-feira, à medida que aumenta a tensão sobre o que os líderes da Igreja Ortodoxa percebem como apoio do governo ao clero separatista. Uma reunião entre as partes estava marcada para ocorrer hoje.

A Igreja é uma das mais antigas da África subsaariana e uma das poucas existentes na região antes da chegada dos missionários europeus.

Direito à informação

Gabriele Racaityte-Krasauske, porta-voz do Surfshark, uma empresa de serviços VPN localizada na Holanda, alertou que o apagão da internet representa uma ameaça à liberdade de associação e compartilhamento de informações entre os cidadãos. É a 11ª interrupção imposta pelo governo na Etiópia desde 2015.

“Governos antidemocráticos muitas vezes desligam os serviços de internet em tempos de agitação, na tentativa de evitar reação a ações governamentais controversas e, finalmente, silenciar o público. Ao restringir o acesso a essas três principais plataformas de mídia social, muitos etíopes não conseguirão se comunicar uns com os outros e organizar protestos”, disse a representante.

Em 2021, a Etiópia anunciou que estava desenvolvendo sua própria plataforma de mídia social para concorrer com os serviços do Facebook, Twitter e WhatsApp.

A intenção do governo etíope dada à época é de que plataformas locais “substituam” serviços como Facebook, Twitter e aplicativos de mensagens e teleconferências. Adis Abeba acusa o Facebook de deletar posts e contas de usuários que alega estarem “disseminando a verdadeira realidade sobre a Etiópia”. 

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