Suposto espião chinês ocupava cargos de destaque em organizações democráticas no exterior

Ativistas afirmam que Guo Jian, ex-assessor de um importante eurodeputado, "conhecia os detalhes" de todos os que participaram de reuniões de duas organizações diferentes

Um assessor de um importante parlamentar europeu foi detido na Alemanha sob acusação de espionar para a China. Guo Jian, suspenso de seu cargo junto com o eurodeputado Maximilian Krah, membro do Parlamento Europeu e candidato à eleição europeia pelo partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), é conhecido por ter atuado, como infiltrado, no movimento pró-democracia, tendo inclusive se encontrado com o Dalai Lama. As informações são da rede Radio Free Asia.

Ativistas afirmam que ele possuía acesso privilegiado para transmitir informações confidenciais a Beijing. Os procuradores federais indicaram que Guo repassou regularmente detalhes das negociações e decisões do Parlamento Europeu à agência de inteligência chinesa.

Guo, atualmente sob custódia enquanto aguarda possíveis acusações, enfrenta também alegações de espionagem contra dissidentes chineses e ativistas estrangeiros na Alemanha. O caso ressalta novamente as preocupações sobre a aplicação extraterritorial das leis e diretrizes chinesas, bem como a contínua supressão de dissidentes estrangeiros e ativistas democráticos. Isso inclui o uso de delegacias de polícia secretas, operações de inteligência no exterior e uma rede de “voluntários consulares” pela China.

O emblema nacional da República Popular da China pendurado na Praça da Paz Celestial (Foto: WikiCommons)

Uma destacada ativista pela democracia no exterior revelou à reportagem que conhecia pessoalmente Guo e o encontrou em vários eventos nos últimos anos. Sheng Xue, escritora e ativista canadense, relatou ter se deparado com Guo em diversas ocasiões em eventos pró-democracia, notando que ele era reservado e passava a maior parte do tempo observando.

Sheng destacou que Guo, na função de diretor da Federação para uma China Democrática e secretário-geral do Partido Republicano da China, tinha acesso privilegiado aos círculos nos quais esperava obter informações, conhecendo detalhes sobre os participantes das reuniões.

Krah negou ter conhecimento prévio das supostas atividades de espionagem de seu assistente. Ele afirmou que, se as alegações se provarem verdadeiras, isso resultaria na rescisão imediata do contrato de trabalho de Guo. O caso ocorre em um momento delicado para o AfD, que está em segundo lugar nas pesquisas nacionais na Alemanha. A prisão do ex-assessor gerou pedidos de parlamentares europeus para um controle de segurança mais rigoroso, após a notícia.

“Reservado e confiável”

A escritora e ativista canadense Sheng Xue revelou que se encontrou com Guo várias vezes em eventos pró-democracia, observando que ele era reservado e passava a maior parte do tempo observando. Ela manifestou preocupação de que Guo possa ter repassado informações ao Partido Comunista Chinês (PCC) para prejudicar grupos anticomunistas e sua eficácia.

A ativista de direitos humanos e jornalista com base na Alemanha, Su Yutong, confirmou que Guo ocupou cargos importantes em duas organizações. Pelo X, antigo Twitter, Su destacou que Guo foi diretor da filial alemã da Federação para uma China Democrática e secretário-geral do Partido Republicano da China. Ela enfatizou que Guo era altamente confiável para o movimento democrático, com muitos democratas conhecidos participando das reuniões que ele ajudou a organizar.

Su também afirmou que Guo esteve próximo de organizações tibetanas e liderou um grupo de pessoas em uma visita a Dharamsala para conhecer o Dalai Lama, compartilhando uma foto da viagem.

O caso

Guo, que se tornou cidadão alemão em 2011, ofereceu seus serviços como informante à inteligência alemã há 10 anos, mas foi rejeitado devido a preocupações sobre sua confiabilidade.

Sua detenção coincidiu com a acusação de dois homens pela polícia britânica por espionagem para a China. Um dos homens supostamente trabalhou como investigador no parlamento britânico para um proeminente legislador do Partido Conservador no poder.

Os dois homens, com idades de 32 e 29 anos, foram acusados de fornecer informações prejudiciais à China, violando a Lei dos Segredos Oficiais. Eles comparecerão ao tribunal na sexta-feira.

Após a prisão em Dresden do assistente de Krah, legisladores europeus rapidamente emitiram condenações e apelaram por autorizações de segurança mais rigorosas.

“A extrema direita desta câmara está colocando nossas instituições em risco de interferência de países terceiros”, disse a eurodeputada francesa da Renew, Nathalie Loiseau, ao site Politico em comunicado. “As autorizações de segurança para funcionários e eurodeputados que lidam com questões sensíveis estão muito atrasadas. As alegações do Russiagate e esta prisão mostram que o tempo da ingenuidade acabou”.

O Ministério das Relações Exteriores da China rejeitou a prisão como especulação destinada a “difamar e reprimir a China”. Condenando o que chamou de “exagero”, o porta-voz Wang Wenbin queixou-se de que “a chamada teoria da ameaça de espionagem chinesa não é nova no campo da opinião pública europeia”.

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