Ruanda se recusa a reembolsar US$ 300 milhões ao Reino Unido por acordo de deportação

Kigali sustenta que o acordo cancelado para expulsar migrantes do Reino Unido não prevê a restituição dos fundos

O governo de Ruanda insinuou que não devolverá os mais de US$ 300 milhões recebidos do Reino Unido desde 2022 em virtude de um acordo para transferir requerentes de asilo considerados terem entrado ilegalmente no país vindos da nação do Leste Africano. O controverso acordo para deportar migrantes, que foi cancelado pelo novo governo trabalhista, não inclui uma cláusula que estipule a devolução dos recursos financeiros envolvidos. As informações são da CNN.

Na terça-feira (9), Alain Mukuralinda, um porta-voz do governo ruandês, afirmou que o acordo de imigração com o Reino Unido não continha qualquer disposição para reembolso, após o novo primeiro-ministro britânico Keir Starmer anunciar que abandonaria o controverso acordo.

Mukuralinda enfatizou que o acordo não continha disposições para o reembolso e destacou que nunca houve qualquer compromisso de devolução do dinheiro, conforme declarado em um vídeo transmitido pela agência estatal Rwanda Broadcasting Agency.

Keir Starmer, novo primeiro-ministro britânico (Foto: WikiCommons)

De acordo com um material informativo divulgado pelo governo britânico em abril deste ano, o Reino Unido concedeu a Ruanda 240 milhões de libras (aproximadamente US$ 307 milhões) até o momento como parte do acordo.

Mukuralinda resumiu: “Tínhamos um acordo internacional assinado e iniciamos sua implementação. Se agora você quer sair, boa sorte”.

O plano controverso anunciado em abril de 2022 pelo governo conservador de Boris Johnson enfrentou desafios políticos e legais devido a preocupações com direitos humanos.

O Conselho Europeu lamentou a medida, enfatizando a importância de seguir as normas internacionais em matéria de asilo e migração. Após a aprovação da lei que permite a deportação de migrantes para Ruanda, pelo menos cinco pessoas morreram recentemente ao tentar atravessar o Canal da Mancha.

Em sua primeira coletiva de imprensa como primeiro-ministro no sábado (6), Starmer afirmou que não estava disposto a prosseguir com o controverso acordo de enviar requerentes de asilo para Ruanda, classificando o esquema como uma “manobra” e refutando a ideia de que o projeto de lei tenha funcionado como um obstáculo.

Após a aprovação do projeto de lei em abril deste ano, o ex-primeiro-ministro Rishi Sunak defendeu que o plano visava evitar travessias perigosas por migrantes vulneráveis e desestruturar o modelo de negócios de grupos criminosos que os exploram.

Filippo Grandi, alto Comissário da ONU (Organização das Nações Unidas) para Refugiados, criticou o projeto de lei, argumentando que ele tentava transferir a responsabilidade pela proteção dos refugiados, prejudicar a cooperação internacional e estabelecer um precedente global preocupante.

Em fevereiro, o o chefe dos direitos humanos da ONU disse que medidas legislativas do Reino Unido para facilitar a rápida remoção de requerentes de asilo para Ruanda são contrárias aos princípios básicos do Estado de direito e correm o risco de desferir um “sério golpe” nos direitos humanos.

“Não se pode legislar sobre fatos que não existem”, afirmou Volker Türk, que à época apelou ao governo do Reino Unido para reconsiderar o projeto de lei à luz de relatórios recentes que levantam uma série de preocupações.

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