Ruandês é condenado a 20 anos de prisão por crimes contra a humanidade

Laurent Bucyibaruta, ex-prefeito de Gikongoro, foi declarado cúmplice por crimes contra a humanidade em quatro chacinas

A Justiça francesa condenou nesta terça-feira (12) um ex-prefeito ruandês a 20 anos de prisão após considerá-lo cúmplice de crimes cometidos no genocídio de 1994, que resultou em um total de 800 mil pessoas mortas por autoridades hutus em Ruanda. As informações são do portal All Africa.

Laurent Bucyibaruta, de 78 anos, é o indivíduo de mais alto escalão a ser julgado na França por mortes de pessoas do grupo étnico tutsi durante os atos sangrentos de 1994. O ex-político foi absolvido da acusação de genocídio, mas foi considerado cúmplice em crimes contra a humanidade devido ao envolvimento em quatro chacinas.

Pesam contra Bucyibaruta acusações de que ele participou de “reuniões de planejamento” que antecederam aos quatro episódios, que tiraram a vida de tutsis na escola secundária de Kibeho, na escola técnica de Murambi e nas paróquias de Cyanika e Kaduha. Após a matança, ele fugiu para a República Democrática Congo e depois seguiu para a França, onde fixou residência e vive desde 1997.

Laurent Bucyibaruta era prefeito de Gikongoro (hoje Nyamagabe) à época do massacre étnico (Foto: Twitter/Reprodução)

Bucyibaruta foi detido e acusado pela promotoria de Troyes, na França, em maio de 2000. A prisão foi resultado de uma denúncia apresentada pela Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH) e a Liga de Direitos Humanos (LHR) ao Supremo Tribunal de Paris. Acabou solto pelo juiz de instrução em dezembro de 2000.

Apelidado de “Açougueiro de Gikongoro”, ele seria formalmente acusado de genocídio e crimes contra a humanidade somente 18 anos depois, em outubro de 2018. O julgamento teve início em maio de 2022 no Tribunal Criminal de Paris, no qual Bucyibaruta negou envolvimento. Mais de cem testemunhas depuseram durante o julgamento, algumas delas sobreviventes do massacre.

“Quero dizer a eles que o pensamento de deixá-los para os assassinos nunca passou pela minha cabeça. Me faltou coragem? Eu poderia tê-los salvado? Essas perguntas, esses arrependimentos, me assombram há mais de 28 anos”, disse Bucyibaruta ao tribunal.

Até hoje, quatro pessoas foram condenadas em tribunais franceses pelo genocídio.

Por que isso importa?

O dia sete de abril é o Dia Internacional de Reflexão sobre o Genocídio contra os Tutsis em Ruanda. Em mensagem para lembrar o dia, neste ano, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas) António Guterres ressaltou desafios como a guerra na Ucrânia e conflito no Oriente Médio, na África e em outras partes do globo. Ele convidou o mundo a refletir sobre os fracassos que levaram à situação ruandesa, que, nas palavras dele, poderia ter sido evitada. 

Guterres disse que o massacre foi deliberado, sistemático e realizado em plena luz do dia. Segundo ele, ninguém que acompanhasse os assuntos mundiais ou visse o noticiário poderia negar o que chamou de “violência doentia”. Mas, anda assim, poucos se manifestaram e menos ainda tentaram intervir.  

Após 28 anos dos acontecimentos, a mancha da vergonha permanece. Para o secretário-geral, as escolhas da comunidade internacional estão entre a humanidade e o ódio, a compaixão e a crueldade, a coragem e a complacência, a reconciliação e a ira.  

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