Rússia vai à ONU, acusa os EUA e diz que Ucrânia ‘abriu uma segunda frente’ na África

Aliados de Moscou, Mali e Níger rompem com Kiev e pedem que o Conselho de Segurança investigue mortes de mercenários russos

A Rússia não digeriu bem a perda de dezenas de mercenários ligados ao Wagner Group em uma emboscada no Mali no final de julho. Após denunciar o envolvimento da Ucrânia, Moscou acusou também os EUA e tratou de levar o caso ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), dizendo que Kiev “abriu “uma segunda frente” de guerra no continente africano.

O governo russo afirma que Kiev teve participação em uma ação que terminou com a morte de dezenas de mercenários do Wagner Group e também de soldados das Forças Armadas malinesas no mês passado. A organização paramilitar e as tropas da nação africana teriam sofrido uma emboscada realizada por uma facção rebelde formada por tuaregues e membros do Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM), grupo extremista islâmico ligado à Al-Qaeda.

O número de baixas é incerto. Enquanto fontes ligadas ao Wagner falam em cerca de 50 vítimas fatais, entre mercenários, soldados malineses e civis, o JNIM diz que matou 84 membros da organização paramilitar privada russa, parceira do governo do Mali no setor de segurança.

Combatentes do Wagner Group, organização paramilitar privada aliada ao Kremlin (Foto: VK/reprodução)

Após o ataque, Andriy Yusov, porta-voz da agência de inteligência militar da Ucrânia (GUR), sugeriu que seu governo colaborou com os rebeldes. Segundo ele, os grupos que realizaram a emboscada receberam previamente “todas as informações de que precisavam, o que lhes permitiu realizar sua operação contra os criminosos de guerra russos.”

A partir de então, a Rússia terceirizou a seus aliados africanos a pressão sobre Kiev. Nos últimos dias, Mali e Níger, ambos sob regimes militares após sofrerem golpes de Estado, romperam seus laços diplomáticos com a Ucrânia em razão do ataque. Paralelamente, foram ao Conselho de Segurança pedindo que o envolvimento ucraniano seja investigado, segundo relato da agência estatal russa Tass.

De quebra, Fuseinou Ouatara, vice-chefe do comitê de Segurança e Defesa do parlamento de transição do Mali, disse que Washington está por trás do apoio aos grupos rebeldes. Ignora, assim, o fato de que o combate à insurgência islâmica no continente africano é uma prioridade do governo norte-americano.

“Acredito que a Ucrânia não é capaz de recolher informações de inteligência. Devem ter sido transmitidas principalmente através dos americanos, porque eles são capazes de obter tais informações”, disse o parlamentar malinês.

Já Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, concentrou suas críticas em Kiev. “Incapaz de derrotar a Rússia no campo de batalha, o regime criminoso de Volodymyr Zelensky decidiu abrir uma ‘segunda frente’ na África e tolera grupos terroristas nos países do continente amigos de Moscou”.

Ainda segundo a porta-voz da diplomacia russa, a decisão do governo do Mali de romper com a Ucrânia é “compreensível”. E justificou: “A cooperação de Kiev com terroristas não é de todo surpreendente.”

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