Ao menos quatro soldados estrangeiros foram mortos no sábado (10) na base militar General Gordon, em Mogadíscio, na Somália. O ataque, reivindicado pelo Al-Shabaab, grupo extremista aliado à Al-Qaeda, custou a vida de três combatentes dos Emirados Árabes Unidos e um do Bahrein, de acordo com a agência Reuters.
Os dados sobre as vítimas foram divulgados pelo Ministério da Defesa dos Emirados Árabes Unidos, que tem tropas no país africano para oferecer treinamento ao Exército local. O governo do país árabe relatou ainda que mais dois soldados ficaram feridos no ataque. A rede CNN e a agência Associated Press (AP) divulgaram as mesmas informações.
O agressor era um combatente do Al-Shabaab infiltrado nas Forças Armadas somalis. Ele havia alegado que deixou o grupo terrorista, por isso foi aceito no Exército local. Vinha sendo treinado como soldado até atacar os próprios colegas de farda.
“O soldado abriu fogo contra os treinadores dos Emirados Árabes Unidos e oficiais militares somalis quando eles começaram a orar”, disse um oficial do Exército local. “Entendemos que o soldado desertou do Al-Shabaab antes de ser recrutado como soldado pela Somália e pelos Emirados Árabes Unidos.”
O Al-Shabaab usou seus meios de comunicação para assumir a autoria do atentado. Como é comum em seus ataques, divulgou um número maior de vítimas, dizendo que 17 soldados foram mortos.
De acordo com a AP, a organização extremista ainda alegou que realizou o ataque porque os Emirados Árabes Unidos são “inimigos” da Sharia, a lei islâmica, por apoiarem Mogadíscio em sua luta contra o terrorismo.
O presidente somali Hassan Sheikh Mohamud prometeu abrir uma investigação para apurar o caso, conforme relatou o site Garowe.
“Condeno veementemente este ato horrível que tirou a vida destes oficiais que sacrificaram o seu tempo e as suas vidas pela libertação do nosso país e pela reconstrução das nossas forças”, disse o chefe de Estado. “Prometemos que ações rigorosas serão tomadas contra quem organizou este ato hediondo.”
Por que isso importa?
O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.
O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques contra órgãos e oficiais do governo e entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.
Civis são frequentemente vitimados pelos atentados. Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram em 2022 na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).
Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de civis atingidos pelas tropas do governo, por milícias armadas aliadas às Forças Armadas e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.
Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto de 2022, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você.”
Mais tarde, em agosto de 2023, o chefe de Estado afirmou que o objetivo é derrotar completamente os extremistas em 2024. “Se não os eliminarmos completamente, talvez haja alguns bolsões com alguns Al-Shabaabs inofensivos que não poderão causar problemas”, disse ele.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.