Três soldados da paz da ONU morrem após explosão na República Centro-Africana

Ataque às forças de paz ocorreu perto da fronteira com Camarões, território que é reduto da ação de milícias

Uma bomba colocada à beira da estrada matou três soldados das forças de manutenção de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) e feriu vários outros na segunda-feira (3) no noroeste da República Centro-Africana (RCA, da sigla em inglês). As informações são da agência Reuters.

O atentado ocorreu perto da aldeia de Kaita, próxima à fronteira com Camarões. A região é reduto de milícias, disse a Minusca (Missão de Estabilização Integrada Multidimensional na RCA, da sigla em francês) na terça-feira (4).

De acordo com a Minusca, o incidente ocorreu enquanto uma patrulha do batalhão de Bangladesh realizava uma missão de proteção à população civil, momento em que um de seus veículos atingiu um dispositivo explosivo.

“A explosão deixou vários feridos, que foram transportados para a cidade de Bouar para tratamento no hospital da Minusca. Infelizmente, três capacetes azuis sucumbiram aos ferimentos”, detalhou a Missão em nota à imprensa.

Boina azul da ONU em missão de paz na República Centro-Africana (Foto: MINUSCA/Leonel Grothe)

Um dos países mais pobres do mundo, a RCA entrou em conflito em 2013, quando o então presidente François Bozize foi deposto por uma coalizão rebelde chamada Seleka, oriunda em grande parte da minoria muçulmana. O golpe desencadeou um banho de sangue sectário entre as milícias Seleka e anti-Balaka, compostas principalmente por elementos cristãos e animistas. O conflito deslocou mais de um milhão de pessoas, segundo a ONU.

A violência na RCA foi reduzida após a assinatura de um acordo de paz em fevereiro de 2019 entre o governo e 14 grupos armados. No entanto, a situação permanece inconstante em consequência de territórios ainda fora do controle federal dentro do país.

Uma das principais ameaças é a coalizão de grupos armados, conhecida como CPC (Coalizão dos Patriotas por Mudanças), responsável por metade dos incidentes registrados. O grupo “matou e sequestrou civis, atacou soldados de paz da ONU, invadiu escritórios de organizações humanitárias, ameaçou funcionários e incendiou centros de votação.  

Por que isso importa?

Em junho deste ano, no Memorial Anual para honrar os funcionários que morreram em serviço, a ONU anunciou que, no período entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2021, registrou o maior número de mortes de servidores em um ano. 

No total, 485 funcionários das Nações Unidas morreram em 2021, sendo 414 civis. De acordo com o chefe da organização, o secretário-geral António Guterres, eles eram de 104 nações de todos os cantos do mundo. Desde a fundação, mais de 3,5 mil homens e mulheres perderam a vida enquanto serviam à entidade.

Ole Bakke, norueguês servindo na Palestina, foi a primeira vítima da história da ONU, morto a tiros em julho de 1948. Dois meses depois, Folke Bernadotte, da Suécia, mediador na Palestina, foi o segundo a ser morto. Já o secretário-geral Dag Hammarskjöld, junto com outras 15 pessoas, morreu em um acidente de avião na antiga Rodésia, atual Zâmbia, em 1961.

Três décadas depois da morte de Hammarskjöld, o número e a escala crescentes de missões de paz da ONU passaram a colocar muitos funcionários em risco. Mais vidas foram perdidas durante a década de 1990 do que nas quatro décadas anteriores combinadas.

Recentemente, a ONU se tornou um alvo como entidade, com suas instalações atacadas três vezes: em Bagdá, 2003, Argel, 2007, e Cabul, 2009. O atentado em Bagdá matou o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, que servia como alto comissário para os direitos humanos.

De 2013 a 2017, um aumento consistente nas mortes de soldados de paz devido a atos violentos resultou em 195 mortes.

Tags: