Chefe da ONU condena ataque a missão de paz que matou militar jordaniano no Mali

Quatro soldados de paz da missão da ONU no Mali ficaram feridos no ataque, sendo que um deles morreu após ser evacuado

O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, condenou veementemente um ataque mortal ocorrido na quarta-feira (1º) contra um comboio de logística da entidade perto da cidade de Kidal, no norte do Mali.

Por cerca de uma hora, o comboio ficou sob fogo direto de supostos extremistas, que usavam armas pequenas e lançadores de foguetes. Quatro soldados de paz jordanianos servindo à Minusma (Missão da ONU no Mali) ficaram feridos no ataque, sendo que um deles morreu após ser evacuado.

O porta-voz da ONU Stéphane Dujarric informou que o ataque foi o quinto incidente na região de Kidal em apenas uma semana. “É um lembrete trágico da complexidade do mandato da Missão da ONU e de suas forças de manutenção da paz e das ameaças que as forças de paz enfrentam diariamente”, disse ele.

Dujarric destacou também que ataques às forças de paz das Nações Unidas podem constituir crimes de guerra. E afirmou que Guterres “pede às autoridades malianas que não poupem esforços para identificar os autores deste ataque, para que possam ser levados à justiça rapidamente”.

Membros da Missão da ONU atuam durante a crise política no Mali (Foto: Minusma/Gema Cortes)

O representante especial do secretário-geral no Mali, El Ghassim Wane, destacou que, apesar das dificuldades, a Minusma continua determinada a apoiar o povo e o governo do Mali em sua busca por paz e segurança.

“Condeno veementemente este ataque, que faz parte dos esforços desesperados de grupos terroristas para dificultar a busca pela paz no Mali e a implementação do mandato da Minusma”, disse Wane em comunicado

O Conselho de Segurança da ONU também emitiu um comunicado condenando o ataque “nos termos mais fortes” e prestando homenagem aos soldados da paz, que arriscam suas vidas em serviço. O órgão pediu ao governo de transição do Mali que investigue rapidamente o ataque, leve os perpetradores à justiça “e mantenha o país contribuinte de tropas relevante informado sobre o progresso”.

Violações crescentes

A Minusma publicou nesta semana seu relatório trimestral de direitos humanos que mostra 812 casos de violações e abusos registrados no Mali nos primeiros três meses do ano. O número representa um aumento de 150% em relação ao trimestre anterior.

As forças Aarmadas do Mali intensificaram as operações militares para combater o terrorismo, com apoio ocasional de elementos militares estrangeiros. Algumas dessas operações resultaram em sérias alegações de violações dos direitos humanos e do direito internacional humanitário, segundo o relatório.

No geral, 320 violações foram atribuídas às forças de defesa e segurança do Mali, em comparação com 31 no último trimestre de 2021.

Crise humanitária

O chefe de ajuda da ONU, Martin Griffiths, esteve no Mali nesta semana para chamar a atenção para a deterioração da situação humanitária e a necessidade de maior apoio. As pessoas estão sofrendo com o impacto de anos de conflito, pobreza profunda, choques climáticos e insegurança crescente, segundo ele.

Atualmente, 5,7 milhões precisam de assistência humanitária, e 4,8 milhões não têm acesso a alimentos suficientes. Além disso, estima-se que impressionantes 1,8 milhão de pessoas passarão por uma situação de insegurança alimentar aguda durante a época de escassez de junho a agosto deste ano.

Durante a visita de quatro dias, Griffiths se reuniu com o governo de transição na capital, Bamako. Ele também viajou para Mopti, no centro do país, uma das regiões onde os rebeldes islâmicos operam há anos após um golpe fracassado. Lá ele se encontrou com deslocados internos na vila de Socoura.

“Mulheres incrivelmente resilientes compartilharam comigo as dificuldades que enfrentam”, disse o chefe de ajuda da ONU. “Algumas perderam seus maridos para a violência e tiveram que fugir de suas casas correndo grande risco. Com a ajuda de comunidades locais, autoridades e parceiros humanitários, alguns agora podem se reerguer, por exemplo, administrando pequenas empresas”.

O OCHA (escritório de assuntos humanitários da ONU) informou que a crise no Sahel Central está se deteriorando rapidamente, com mais de 13 milhões de pessoas em Burkina Faso, Mali e Níger precisando de assistência.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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